Sou insuspeito quanto ao apoio a José Sócrates sobre quem aguardo que sejam apresentadas em tribunal as provas, supostamente detidas pelo Ministério Público e habilidosamente selecionadas fora do contexto geral para serem divulgadas no pasquim da Cofina na intenção de concretizar na opinião pública uma sentença condenatória que os factos dificilmente viabilizarão. Continuo convencido que, a exemplo do sucedido com outros dirigentes mundiais conotados com a esquerda (Lula no Brasil, Correa no Equador, só para referenciar dois casos de exemplar injustiça!), Sócrates foi um dos visados por uma qualquer orientação clandestina, mas com grande influência nos sistemas judiciais de vários países, para infletir à direita o poder político que à esquerda tenderia a consolidar-se.
É, igualmente, conhecida a tendência do ex-primeiro-ministro para reações a quente, que ganhariam em ser refreadas pelo uso inteligente da racionalidade. Ora o texto, por ele subscrito no «Expresso» deste fim-de-semana, demonstra a pulsão para o acessório em detrimento do essencial. Embora peque por excesso de ego, Sócrates deveria ter em conta que não é ele quem mais importa ao país por muito que se julgue injustiçado por um partido, que não o terá defendido tanto quanto teria pretendido.
Lamentem-se as suas penas, mas reconheça-se que para o Partido Socialista, a ter-se posto inequivocamente a seu favor - contra a imprensa e o referido aparelho judicial - estes quatro anos não teriam decorrido como até aqui. Não daria provas irrefutáveis de contar com a liderança mais capaz para corresponder aos problemas imediatos dos portugueses, melhorando-lhes os rendimentos e preparando o terreno para, mais solidamente, avançar com o investimento nos serviços públicos nos próximos anos. Como teria sido possível com os telejornais e os pasquins da imprensa escrita a repetirem até à exaustão as mesmas mentiras associando-as a um governo incapaz de responder a todos os múltiplos ataques que viessem das mais variadas direções?
Ademais se José Sócrates está convencido da sua inocência é com um governo socialista, que melhores condições disporá para o demonstrar, porquanto tal lhe seria vedado com um que fosse mero cúmplice dos que cuidaram de arranjar argumentos para o difamar. Conceda-se que os putativos criadores do caso Sócrates estariam muito mais à vontade para prosseguirem na sua narrativa se contassem com a condescendência ativa de Joana Marques Vidal.
Enquanto seu apoiante, enquanto militou no Partido, continuo esperançado de que seja desmascarada a urdidura tecida por Carlos Alexandre, Rosário Fernandes e Paulo Silva. Daí que custe vê-lo dar tal tiro no pé por uma fútil questão de orgulho. Porque faz pensar se quebrou duradouro silêncio por saber ser esta a altura propícia para avançar com uma vingança mesquinha contra quem pôs o interesse do país e do partido à frente do de uma amizade partidária, Se assim foi, e sem excluir que continuem a subsistir motivos para admirar o homem político, não se abona nada em favor do que hoje ele é.
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