Podemos e devemos indignarmo-nos com os energúmenos que continuam a agredir, a violar e a assassinar mulheres portuguesas. No caso da rapariga do Seixal, que o ex-namorado raptou em Barcelona e trouxe de volta para mantê-la escrava dos seus ditames de alucinado patrão, só podemos congratularmo-nos com o desfecho positivo e a colocação do canalha em prisão preventiva fazendo votos para que a mão da Justiça lhe caia pesadamente em cima.
Já distante parece-nos o sofrimento das mulheres rohingya acolhidas em campos de refugiados no Bangladesh. Os repórteres do programa Arte Reportage foram encontra-las num cenário tenebroso: violadas repetidamente pelos militares birmaneses e milicianos budistas, depois de terem assistido ao assassinato de maridos e filhos, vivem escondidas, enclausuradas dentro de uma vergonha, que não consegue ser transformada em revolta ativa contra quem tão cruelmente as violentou.
O peso da cultura cinge-as a essa passiva e silenciosa atitude tanto mais que os familiares sobreviventes repudiam-nas como se tivessem podido impedir o triste destino, sobretudo as que deram à luz crianças fisionomicamente indisfarçáveis quanto aos traços dos brutais progenitores.
No meio dessas tragédias surgem sempre exceções e uma delas é Solima: ostracizada com o filho está disposta a tudo e todos enfrentar, porque o instinto de proteção pela cria acaba por ser mais forte do que todo o sofrimento, que possa recordar-lhe.
Se as portuguesas agredidas pelos crápulas com quem tiveram a desdita de se cruzar merecem atitude firme da sociedade para as proteger, castigando exemplarmente os algozes, as mulheres rohingyas, bem deveriam ser o foco de uma estratégia internacional apostada na recuperação dos danos psicológicos a que foram e continuam a ser sujeitas. Infelizmente nenhuma instância parece interessar-se pela sua desventura...
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