domingo, 11 de agosto de 2019

Quando os feios, porcos e maus estão diante de nós


Tem razão Valter Hugo Mãe quando, na crónica semanal no DN, refere que o comportamento decente esvai-se com a escassez. As cenas de altercações em bombas de gasolina durante esta semana, com quem encheu bidões e jerricãs dilatando a morosidade nas filas das bombas de combustível, revela a natureza de um povo facilmente conotável com o comportamento dos feios, porcos e maus. “Por mais escola que tenhamos é o que se vê”, queixa-se o autor de tantos romances onde ser-se ou não humano é questão sempre presente.
Que pena não termos visto a Revolução de Abril prevalecer sobre todos os governos das direitas, que esforçaram-se por contrapor a concorrência à solidariedade, os colégios e hospitais privados aos dos serviços públicos e o telelixo audiovisual a uma informação para a cidadania.
Aceitámos que a Democracia se reformatasse nos moldes neoliberais e o resultado é este salve-se quem puder, que bestializa quem protagoniza tão lamentáveis cenas. E porque será que esses açambarcadores são os que mais facilmente verberam contra tudo e todos como se fossem eles os mais irrepreensíveis donos das virtudes? Quando nos armamos de paciência para lhes ouvir os disparates lá vêm as evidentes simpatias pelas direitas, verberando as esquerdas por todas as falsidades acefalamente colhidas nas fontes de desinformação, que tanto prezam, desde o correio da manhã até aos sites promovidos por gente desejosa de criar as condições para que surja um Salvini ou uma Le Pen com quem se deliciariam bovinamente.
Almada Negreiros escreveu célebre texto em que reconheceu haver nos portugueses a capacidade para vir a ser um grande povo porque, tendo já todos os defeitos, só lhe faltariam todas as qualidades para tal. Melhorámos alguma coisa desde então - pelo menos na percentagem dos analfabetos funcionais! - mas ainda há tanto por fazer para que pertençamos a uma nação civilizada!

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