Quase meio-dia passado sobre o início da greve dos camionistas pode dizer-se que a montanha pariu um rato. Adaptando-se às circunstâncias os portugueses vão passando ao lado dos piquetes de greve, que assumem o aspeto de uns tristes ajuntamentos de quem revela desnorte perante a inconsequência daquilo para que foram manipulados por um perigoso arrivista.
Incitam os colegas a pararem os camiões, que transitam com normalidade prosseguindo para os respetivos destinos. Anunciam que vão deixar de cumprir os serviços mínimos e logo recuam quando sentem enovelar-se a embrulhada em que se enfiaram. No limite vitimizam-se arranjando umas patéticas folhas com um boneco choroso, qual calimero consciente de quão pouco podem para alcançarem os mundos e fundos prometidos pelo seu suspeito guru.
Quem hoje avança para a greve não tem a noção de, nestes quatro anos, e tanto quanto à administração pública disse respeito, nenhuma trouxe qualquer benefício para quem esteve envolvido nessa forma de luta. Foi em função da folga dada pelos indicadores económicos, que o governo reverteu os cortes do anterior, deu aumentos, contratou mais recursos humanos e descongelou as carreiras. Em todos os casos a resposta às greves foi o desgaste de quem as empreendeu com os responsáveis a arranjarem formas mais ou menos honrosas de disfarçarem o seu fracasso.
Os camionistas conseguiram inesperado sucesso em abril levando a Antram às cordas. O governo envolveu-se numa disputa que não era a sua, mas em que o seu papel se mostraria crucial para defender os interesses de todos os portugueses. E conseguiu resultados palpáveis por intervenção do hábil negociador, que é Pedro Nuno Santos.
Um êxito acima das expetativas terá levado os camionistas a julgarem que a água do rio voltaria a passar segunda vez pelas respetivas margens. E enganaram-se. Forçado a ser ator num conflito que, a priori, apenas o deveria ter como espectador, o governo agiu cirurgicamente. Agora é só deixar que o mesmo desgaste de quantas greves se verificaram no setor público, se replique e os camionistas à debandada. Faltará ver se a rendição final será mais ou menos tranquila, mas aposto nesta segunda hipótese: o desespero da iminente derrota levará os mais exaltados a agir, forçando a requisição civil que o governo adiará para tão tarde quanto possível. Mas que constituirá a única possibilidade para que os derrotados levem a vitimização ao paroxismo e saiam da luta a queixarem-se da desigualdade entre os seus depauperados argumentos e a autoridade do Estado, que contra eles se terá revelado implacável.
Justificar-se-á então a utilização da expressão romana «Vae victis», porque os derrotados ficarão à mercê dos que os terão vencido.
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