segunda-feira, 5 de março de 2018

Um personagem equívoco sai de cena


A História mostra-nos que os seus acontecimentos maiores decorrem das mudanças de equilíbrios entre as classes proprietárias e as que só têm a força dos seu braços e a inteligência para venderem àqueles: a tal dicotomia entre o Capital e o Trabalho. No entanto, o sucedido em Itália neste fim-de-semana voltou a demonstrar que a personalidade política dos líderes também pode influir, e muito, nos avanços ou recuos em direção a uma sociedade, que se pretenda mais justa e igualitária: se as esquerdas portuguesas muito beneficiam de terem contado, em novembro de 2015, com a clarividência de António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, as italianas acabam de pagar o preço de se terem deixado comandar por um autêntico bufão cujas sucessivas derivas narcísicas só podiam conduzir ao atual desastre.
Tudo em Matteo Renzi foi equívoco, a começar pelo facto de ter ascendido ao topo do Partido Democrático, que é o herdeiro bastardo do antigo e valoroso Partido Comunista Italiano, que tanto se enaltecera na luta antifascista contra os ocupantes nazis. Oriundo da Democracia Cristã, movimento igualmente desaparecido na sequência da vertigem justicialista, que assaltou a vida política italiana no final dos anos oitenta - cujo «bonito» resultado foi levar Berlusconi ao poder! - ele foi promovido como suficientemente “centrista” (no que isso significa de ser inocuamente híbrido entre a falta de ideologia à esquerda e à direita) para conquistar maiorias absolutas e acabar com o caos habitual na formação de governos transalpinos. E se não conseguiu alcançar esse objetivo a bem cuidou de querer alterar a Constituição e as Leis Eleitorais para que os desejos se tornassem em realidade. Renzi sai de cena como o paradigma do político sem princípios, nem escrúpulos, que só deu razão à demagogia antipolíticos dos populistas, nomeadamente do Movimento do palhaço Grillo.
Um caminho de pedras muito agreste espera as esquerdas italianas na necessidade de se recriarem, de renascerem. Mas talvez percam, agora, a vergonha em se assumirem nos valores de transformação social, que gerações sucessivas dos seus antepassados protagonizaram!

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