sábado, 17 de março de 2018

A escravatura de que vamos sendo cúmplices


Ao nos vermos obrigados a suportar novas prosápias mediáticas do dono dos Pingo Doce é inevitável lembrarmo-nos como, de 2016 para 2017 os valores brutos por ele recebidos dos cargos desempenhados no seu grupo retalhista, aumentaram de 1,269 milhões de euros para 2,009 milhões. Ou seja, Pedro Soares dos Santos atribuiu-se um aumento de 58,3%.
Comparativamente com ele, mais de 50% dos trabalhadores do setor - e aqui somam-se aos dessa cadeia de hipermercados, os do Continente, do Auchan, do Corte Inglês e demais insígnias de super ou hipermercados - ganham o salário mínimo, com o patronato a exigir em sede de negociação do contrato coletivo, que os aumentos miseráveis aí em causa sejam «compensados» com perda de direitos que equivalem a 3% dessas remunerações, nomeadamente através de menor remuneração do trabalho em feriados ou em horas extraordinárias. Mantendo no essencial as normas internas, que impõem um ritmo de trabalho infernal, sem tempos aceitáveis para pausas ou refeições.
Dando razão à minha cara metade que se insurge sempre que a arrasto para essas grandes superfícies, temos de assumir a noção de, ao fazê-lo, estarmos a pactuar com a proliferação do trabalho escravo, mesmo que eufemisticamente ele não seja assim qualificado. Sem esquecer as fugas aos impostos que tais negreiros assumem ao terem mudado para a Holanda as sedes fiscais das suas empresas.

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