segunda-feira, 26 de março de 2018

Recordar maio de 68 (2): a crise política


Em 1966 e 1967 as lutas contra as políticas do governo já tinham sido intensas, pelo que as centrais sindicais possuiam as máquinas oleadas para, em 13 de maio de 1968, convocarem uma greve geral, que exigia a demissão de De Gaulle.
Nessa noite os estudantes ocupam a Sorbonne e a maioria das universidades e o Odeon, organizando-se fóruns permanentes de discussão, onde a palavra se liberta. Criam-se comités para tudo e mais alguma coisa, com a Utopia a fazer-se urgente  no tomarem-se os desejos por realidades. O marxismo, o situacionismo e o anarquismo encontravam formam inéditas de se interligarem.
No dia 14 o movimento de ocupações estende-se às fábricas - Sud Aviation, Renault, Cléon - com a greve geral a declarar-se permanente a partir do dia 16, quer para o setor público, quer para o privado. Na televisão (ORTF) os jornalistas exigem a liberdade de informação. As ordens profissionais - médicos, advogados, arquitetos - também declaram a adesão à luta.
Surgem novas palavras de ordem: «é proibido proibir», «sejam realistas, peçam o impossível», «a imaginação ao poder», «sob as calçadas, a praia».
Por essa altura nem os mais ativos participantes conseguem perceber o que se está a passar: trata-se de um movimento com carácter unificador em que se revelará em breve uma liderança, ou uma conjunção de movimentos distintos com muito de contraditório entre si? A greve assume ou não um caderno reivindicativo? Está ou não em curso uma nova forma de fazer política? Há ou não condições para levar por diante a almejada autogestão pretendida pela CFDT socialista?
A maioria governamental também não escapa às divisões tão evidente se torna o crepúsculo do gaulismo. A 24 o general anuncia ao país a intenção de organizar um referendo.  Por essa altura, e vendo que não consegue controlar o caos, o PCF disponibiliza-se para negociar conseguindo a aprovação de um aumento de 35% no salário mínimo pelo Ministro do Trabalho. Mas o objetivo da central comunista é a criação de condições para a implantação de um governo popular de união democrática.
A 29 de maio De Gaulle desloca-se a Baden Baden para conferenciar com o general Massu, mas, no dia seguinte, regressa a Paris para comparecer numa manifestação nos Campos Elísios convocada pelos seus apoiantes. Nessa noite, em comunicação aos franceses, denuncia a «conspiração do comunismo totalitário» e revela ter decidido a dissolução da Assembleia e a convocação de novas eleições.

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