quarta-feira, 21 de março de 2018

O uso e abuso dos incêndios de 2017 como estratégia política

No vale tudo para prejudicar a imagem do governo está na ordem do dia o Relatório da Comissão Independente sobre os incêndios do ano transato. As televisões exploram-lhe o que possam de conter de mais negativo para quem teve de tomar decisões naquela altura, em cima dos acontecimentos, e escamoteando o que nele se diz objetivamente de mais concreto: que o país foi sujeito a situações  meteorológicas extremas, sobre as quais não havia experiência bastante para com elas lidar. Ouviu-se, por exemplo, um deputado do CDS, dar como então adquirida a informação sobre os possíveis efeitos da localização do anticiclone dos Açores, quando basta a consulta dos jornais de então para concluir que apenas se conjeturava sobre a possibilidade de tal vir a suceder.
É por isso que importa às vezes fazer as perguntas ao contrário: hoje as direitas e os seus altifalantes mediáticos criticam o governo por ter dado por concluída a fase Charlie, na altura habitualmente considerada sazonalmente para o efeito, não tendo prolongado por mais tempo a alocação dos meios então mobilizados. Mas não sabem ou não querem ler a opinião dos peritos segundo os quais nem com a multiplicação de meios de prevenção teria sido possível colmatar o rápido avanço das chamas? E, por outro lado, imagine-se que o governo decidia, efetivamente, esse prolongamento e nada sucedia: quem calaria Cristas e seus cúmplices quanto a terem-se gasto milhares de euros desnecessariamente, quiçá para propiciar grandes negociatas aos que Paulo Morais logo se apressaria a suspeitar como indevidamente favorecidos por tal decisão?
A demagogia das direitas passa por esta estratégia: apelar-se-á sempre á prisão de António Costa e dos seus ministros, quer por terem cão, quer por o não terem! Mas será que acreditam que o eleitorado é tolo e não lhes compreende a trapaça?

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