quinta-feira, 15 de março de 2018

A realidade a mover-se apesar de Trump, apesar de Theresa May


1. Sobre Stephen Hawking já quase foi tudo dito restando-me pouco a acrescentar. A não ser duas notas pessoais complementares: em primeiro lugar a sua permanente escusa em aceitar as adversidades contornando-as para concretizar tudo quanto o seu espírito genial era capaz de formular; em segundo lugar o ateísmo convicto de quem sabe ser do foro da Ciência a explicação para tudo quanto muitos julgam oriundo do «transcendente» e do «metafísico». Por isso mesmo não acreditava na vida além-túmulo, que qualificava como “conto de fadas para pessoas com medo da escuridão”. Era evidente a forte probabilidade de Hawking subscrever a célebre máxima de Karl Marx para o qual a religião é sempre o ópio do povo.
Na vontade de superar as dificuldades e rejeitar que elas o condicionassem, tem-se um bom motivo de inspiração para quantos olham para o mar e o julgam mais alto do que a terra, poupando-se aos esforços necessários para chegarem bem mais longe do que pressuporiam as circunstâncias. Mudá-las é sempre a melhor alternativa, sobretudo se permitir que a História prossiga na sua evolução mais positiva.
2. Não sabemos se foi o Kremlin quem mandou atentar contra a vida de um espião, que se passara de armas e bagagens para o Ocidente depois de divulgar a lista dos confrades a soldo dos russos deste lado do continente. Mas a resposta de Theresa May, parecendo forte, revela a fraqueza de quem não sabe como coincidir o Brexit com as promessas ilusórias dos seus proponentes e busca na política externa a fuga em frente para dar prova de existência. Como Jeremy Corbyn constatou a polícia inglesa ainda não revelou qualquer prova consistente da grave acusação de May contra a Rússia, para a qual busca o apoio da Nato e dos países da União Europeia. É que não basta dizer que o químico em causa costuma ser produzido na Rússia, tendo em conta a possibilidade de ser possível a qualquer serviço de espionagem ocidental obter uma amostra suficiente para um pequeno ataque letal, que depois imputa à outra parte.
Podemos fingir-nos de ingénuos e aceitar a tese inglesa, mas somos suficientemente formados por John Le Carré para concluir que, no mundo da espionagem, o que muitas vezes parece está longe de coincidir com a verdade dos factos.
3. A vitória do democrata Conor Lamb na eleição parcial na Pensilvânia abre expetativas quanto aos resultados de novembro, quando será possível a perda da maioria republicana no Senado e na Câmara dos Representantes. Apesar do Partido Democrata revelar-se demasiado caótico para merecer tal vitória, tudo aponta para a forte probabilidade de os norte-americanos já estarem esclarecidos quanto às «virtualidades» da Administração Trump cuidando de lhe tolher a ação no curto prazo. Mas que gostaríamos de ver os apoiantes de Bernie Sanders ganharem uma primazia, ainda por conseguir, é desejo ainda não traduzido em animosa realidade. Para já contentemo-nos com estas vitórias pontuais e com o estrondoso sucesso do protesto estudantil contra o poderoso lobby das armas...

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