quinta-feira, 8 de março de 2018

Os boatos continuam a ser a arma da reação


Os anos já se acumulam o suficiente para recordar como, logo após o 25 de abril de 1974, começaram a surgir notícias falsas, que ninguém conseguia provar donde surgiam, mas logo disseminadas com a rapidez de um fósforo a arder. Tratando-se de época de aceleradas transformações políticas, sociais e económicas, essas fake news tinham propósitos evidentes de confundirem, manipularem ou enganarem os incautos, que nelas acreditavam. Daí que surgisse a palavra de ordem «O boato é a arma da reação!»
Esse momento há muito vivido voltou-me à mente a propósito da reportagem alarmista publicada pela «Visão», que deixando de ser propriedade do grupo de Pinto Balsemão, não abandonou a agenda política  anterior de constante adulteração da realidade de forma a prejudicar tanto quanto possível a atual maioria parlamentar. A notícia tinha as condições para desassossegar todos quantos transitam diariamente entre as duas margens do Tejo através da Ponte 25 de abril e alegava um relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que teria encontrado fissuras e parafusos soltos. Colapso era hipótese não descartável.
Imagine-se quem ouviu a notícia e ainda tem presente a tragédia ocorrida com a ponte de Entre-os-Rios durante o governo de António Guterres. E, como de costume, a cavalgar o boato, lá veio o CDS a exigir explicações do governo numa convocação urgente ao Parlamento. A tentação de Cristas em explorar as piores notícias é uma característica vampírica, que não consegue ser sequer controlada pela lucidez de primeiro se informar e depois declarar algo com substância. É que, por certo, os mais avisados terão logo questionado até que ponto os cortes feitos à pála da troika com a conivência ativa da dita cuja em causa não estaria no fundamento da notícia.
É claro que o governo já veio sossegar os ânimos, e até Marcelo se sentiu na obrigação de criticar os que recorrem a este tipo de estratégias sujas para o combate político. Mas, quase quarenta e quatro anos depois da Revolução de Abril, o boato continua a ser, manifestamente, uma das armas preferidas da reação.

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