domingo, 25 de março de 2018

O Facebook manipula. E a imprensa tradicional o que faz?


Os incêndios do ano transato continuam a alimentar a persistente campanha antigoverno, que os jornais e as televisões exploram até à náusea apesar do sentimento de orfandade deixado pelo autoafastamento de Passos Coelho. Cristas tenta-lhe ocupar o espaço vago, mas, apesar da constante promoção publicitária só ela parece levar-se a sério. Ademais acaba de ter uma significativa derrota interna no Porto, bem reveladora de como nem na própria freguesia, não consegue ser convincente prior.
Com Rui Rio acontece outro fenómeno curioso: tido como patinho feio de uma ninhada, que as sondagens revelam manter-se enfezada, procura ao mesmo tempo imitar o discurso do antecessor, mas adoçando-o com uma aparente civilidade, que acaba por o deixar numa espécie de hibridismo, em que os próprios militantes laranjas dificilmente detetarão se a sua proposta é mais carne, ou mais peixe, sem se revelar de coisa nenhuma.
Os contestatários ao governo assumem como alternativa uma conduta niilista: nada está bem, mesmo que os indicadores económicos provem o contrário, e tudo se submete a crítica, mesmo que ela se descredibilize pela natureza absurda. Se se leva tempo a aprovar uma lei antecipam-se as consequências da demora, se se a aprova rapidamente insiste-se na precipitação com que terá sido oficializada. Se a seca se instala a culpa é do governo, mas se as chuvas e os ventos fustigam o país, também a Costa se imputará a responsabilidade. Foi essa a lógica  - ou a falta dela! - que levou o vil Montenegro a atribuir ao primeiro-ministro a razão de ser do surto de sarampo, que vem afetando dezenas de cidadãos.
A obsessão em associar António Costa ao que de negativo ocorre dia-a-dia, fazendo com que a ação de mobilização das populações para a prevenção dos incêndios tenha sido, indecentemente, qualificada de mero marketing. Mas quem ousa olhar para a agenda de Marcelo Rebelo de Sousa e constatar o quanto, ela sim, está totalmente orientada para continuar a vender uma imagem falsa do afilhado do último ditador do Estado Novo? Ou onde se ouviu algum apresentador de telejornal aplicar essa perspetiva à breve visita de Cristas aos cantoneiros de limpeza da Câmara de Lisboa?
Não surpreende que a imprensa portuguesa passe por tão grave crise. O abismo entre a opinião publicada e a que maioritariamente é formulada por quem tem a legitimidade do voto e o expressa em eleições e em sondagens, é tão significativo, que as redes sociais acabam por servir de alternativa preferencial para se conseguir uma informação com uma perspetiva mais próxima da do governo do que da oposição. Por muito que as notícias da passada semana revelem bem os riscos de manipulação a partir do manuseio dos dados aí partilhados. Mas é caso para questionar se existe alguma razão para alguns assumidos relapsos do facebook (Pacheco Pereira, Miguel Sousa Tavares, Clara Ferreira Alves) diabolizarem essa alternativa se a imprensa convencional atingiu o nível zero na sua credibilidade?

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