terça-feira, 20 de março de 2018

Muito rastilho para tão escassa pólvora


Há semana e meia, quando se cumpriram dois anos sobre a tomada de posse de Marcelo como presidente da República, Bernardo Ferrão questionava no «Expresso» se ele já conquistara um ligar na História. A pergunta era parva e condizia com quem a formulava, porque, olhando para este tempo de mandato podemo-nos questionar o que já contribuiu Marcelo para que os portugueses vivam hoje melhor do que quando preparava ativamente a sua conquista do poleiro através das suas charlas dominicais na TVI? Propôs ou decidiu algo nesse sentido? Saiu da sua cabeça alguma proposta ou projeto, que a desocupasse das suas costumeiras elucubrações invariavelmente traduzidas em intrigas contra quem elege, no íntimo, como inimigos de estimação?
Se o PIB cresce, contam-se menos desempregados e o rendimento médio sobe, apenas se deve à boa governação da equipa de António Costa e ao apoio dos partidos das esquerdas parlamentares.
Para além de selfies e abraços, que papel tem sido o de Marcelo? Há substância consistente, que negue a volatilidade da frenética atividade mediática a que se entrega com a noção de ser a única com que poderá enganar os incautos, garantindo-lhe aprovações amplamente maioritárias?
E, no entanto, se o embaixador Seixas da Costa formulava o desejo de ver “o segundo presidente civil oriundo da direita política” a usar “da sua autoridade para ajudar esse mesmo setor a distanciar-se do regime que vigorou até 1974”, ele demonstraria não ser esse o seu objetivo, quando assinou uma deplorável nota a respeito da morte de Varela Gomes.
Dias atrás apostei com um casal amigo em como ele não se atreverá a concorrer a um segundo mandato se o PS conseguir a maioria absoluta nas legislativas. O orgulho não lhe permitirá ver-se reduzido à função de corta-fitas sem ter o veneno do escorpião, que gosta de destilar tão só a ocasião se lhe proporcione. Não tenha ele continuado a fazer mais do que o até aqui produzido e que terá a História para registar sobre a sua passagem por Belém? Much ado for nothing, como Shakespeare intitulou uma das suas mais singulares comédias.

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