Num dia em que não foram muitas as notícias, que nos pudessem alimentar o lado solar de ver a realidade, a que dá conta da duplicação dos cardumes de sardinha na costa portuguesa entre Caminha e o Cabo Espichel é decerto a demonstração em como, se devidamente controlados e regulamentados na sua exploração, os recursos podem ser, se não inesgotáveis, pelo menos doseáveis inteligentemente de acordo com as necessidades, que por eles sejam satisfeitas.
Negativa, mas sem motivo para nos causar admiração, é a crítica emitida pelo Consórcio Global Anticorrupção, que dá a experiência portuguesa com os Vistos Gold como uma das mais propícias à criminalidade de quem os atribui, gere ou recebe. Indissociavelmente ligado a Paulo Portas, e contando já com um ex-governante em fase de julgamento, mesmo que quase clandestino, sobre tal conúbio ilegítimo, esse programa estava na lógica dos ideários das direitas, para as quais tão-só haja dinheiro pelo meio tudo se compra, até mesmo a aprovação de residência e de cidadania a quem nunca a deveria merecer.
Mais compreensível, embora à primeira vista constitua uma surpresa, é o facto de se ter atingido em 2017 o ponto mais baixo do número de mulheres nas Forças Armadas. Se em 2010 elas eram 13% dos efetivos então existentes, passaram para 10,5% no ano transato. A explicação talvez resida no facto de a afirmação feminina já não fazer grande sentido nas áreas profissionais habitualmente preenchidas por homens, porquanto vão sendo maioritárias em setores onde fazem toda a diferença: a saúde, o ensino, a justiça, etc.
No comentário político domina a Itália como motivo de reflexão com Francisco Louçã a desafiar os burocratas de Bruxelas a deixarem de se fazer de inocentes, afiançando estar tudo bem apesar da progressão aparentemente imparável das forças políticas xenófobas e eurocéticas. Não! As cinzas estão a acumular-se, eleição após eleição, e nenhuma fénix delas renascerá.
No mesmo sentido pronuncia-se Daniel Oliveira, que aponta quatro grandes causas para estas tendências: a globalização económica; o aumento da desigualdade em todo o mundo ocidental; a sensação crescente e difusa de insegurança; e a crise do poder dos Estados e, com ele, da democracia. E constata que “as pessoas acreditam menos na democracia porque a democracia é cada vez menos relevante nas suas vidas. E isso acontece porque o poder político manda cada vez menos no Estado e o Estado tem um papel cada vez menos relevante nos países e na vida das pessoas que neles vivem.”
Numa altura em que o Partido Democrata Italiano se junta ao já enorme clube dos sociais-democratas mortos, Daniel Oliveira aposta - e eu com ele! - numa “esquerda tendencialmente soberanista, que pretende devolver aos Estados e à democracia o papel de regulador.”
Conclua-se com um bom exemplo utilizado por David Marçal e Carlos Fiolhais para contestar a defesa de medicinas alternativas num artigo de opinião no «Público» e que corrobora a minha admiração indubitável por Bertrand Russell e correspondente antipatia por um filosofo austríaco, que as direitas ideológicas andaram a promover ativamente nos anos mais recentes: “O matemático e filósofo Bertrand Russell encontrou-se em 1911 com Ludwig Wittgenstein, um influente filósofo do relativismo. Russell tentou que Wittgenstein concordasse com a seguinte frase: Não há, nesta sala, neste momento, um hipopótamo. Mas Wittgenstein recusou-se a concordar, mesmo depois de Russell ter espreitado debaixo de todos os móveis.”
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