domingo, 18 de março de 2018

Hospitais, exageros publicitários, universidades (brasileiras) e um enormíssimo senhor


1. Cem milhões de euros por ano é muito dinheiro. Quando é esse o prémio do Euromilhões lá aparecem aquelas reportagens tontas com uns palermas sorridentes a usufruirem o seu minuto de fama para confessarem o que fariam com tal fortuna. Mas segundo o 2º Barómetro de Internamentos Sociais esse valor  equivale ao custo anual imputado ao Serviço Nacional de Saúde pela permanência média de quase mil pessoas em hospitais, que não têm como as devolver às famílias ou a quaisquer instituições onde possam continuar a usufruir dos cuidados devidos à sua frágil condição.
Num país onde as Misericórdias e instituições afins não chegam para as encomendas nos seus serviços assistencialistas, uma verdadeira política social direcionada para os mais desvalidos tem de ser assumida a nível estatal. Até porque o aumento da longevidade vai dilatando a dimensão do problema.
2. A bastonária Cavaca dos enfermeiros veio indignar-se por se atribuir a representantes da classe a responsabilidade pelo surto de sarampo no norte do país. Mas é caso para perguntar se não são essas as evidências já recolhidas no terreno? E, sobretudo, como se atreve a criatura a protestar contra quem defende a obrigatoriedade de vacinação para quem presta cuidados de saúde em instituições públicas?
3. Há poucas dúvidas sobre a origem das notícias, que têm posto em polvorosa o estado-maior de Rui Rio nestas primeiras semanas à frente dos destinos do PSD. Mas convenhamos que se lhe ajusta bem um célebre ditado popular sobre quem não quer ser visto como lobo. As práticas do secretário-geral escolhido por Rio mostra bem como os seus padrões de comportamento nada têm a ver com a imagem impoluta com que esta nova equipa dirigente se quis apresentar. Caso para dizer que estes publicitários eram, de facto, uns exagerados…
4. Estimulante está a ser a luta de algumas universidades brasileiras por promoverem o estudo dos acontecimentos de 2016 qualificando-os de golpe de Estado. Apesar da reação destemperada dos capangas de Michel Temer e de algumas investidas judiciais, a luta contra a deriva autoritária assumida pelos que se apossaram ilegitimamente do poder não conhece descanso. Se, inicialmente, houve quem ficasse apático perante uma estratégia tão bem coordenada entre juízes, políticos anti-PT e os principais órgãos de comunicação do país, a maré parece estar a virar. E o assassinato de Marielle Franco constitui mais um momento crítico, que tende a acentuar o revigoramento da indignação popular.
5. Nos últimos dias andamos cá em casa a revisitar os mandatos de Jorge Sampaio como presidente por «culpa» da biografia de José Pedro Castanheira e a conclusão é óbvia: ele terá sido o mais profícuo titular do cargo em Democracia apesar da discrição com que sempre procurou intervir. Não admira, por isso, que depois de abandonar Belém, dois secretários-gerais da ONU (Kofi Anan e Ban Ki-moon) tenham recorrido aos seus préstimos para missões internacionais de grande relevância no combate contra a Tuberculose e a favor do diálogo entre as sociedades muçulmanas e as ocidentais.
Olhando para o seu riquíssimo percurso político é de bradar aos céus a circunstância de ter-lhe sucedido o ignaro filho do gasolineiro de Boliqueime, que seria impensável ver investido em tão relevantes desafios. E convenhamos que, com Marcelo, as melhorias foram mais de forma do que de conteúdo...

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