Thomas Piketty costuma dizer que releva do mais puro charlatanismo o pretenso exercício de quem, julgando deter conhecimentos de Economia, faz previsões neles fundamentadas. Cuidando ela de uma realidade tão volúvel e em constante mutação, como é a organização económica das sociedades, é fútil afiançar que ela vai evoluir num ou noutro sentido. Como dizia um conhecido ex-capitão do F.C. Porto previsões, neste âmbito, só no fim do jogo.
Um outro economista de renome, Kenneth Arrow, que foi Prémio Nobel em 1972 e morreu em fevereiro deste ano, também considerou dramática a tendência para a Economia ter sido tomada de assalto por gente pouco séria. Comparativamente ele citava como a Astronomia, com os seus conhecimentos sérios sobre a posição dos astros, tinha sido descartada da opinião pública pelos astrólogos, que se presumiam sabedores o bastante para adivinharem futuros em função do aspeto do zodíaco.
Vêm estas referências a propósito do estudo apresentado esta semana por quatro economistas, dois deles conhecidos pelo comprometimento com o estudo económico, que fundamentara o Programa Eleitoral do Partido Socialista em 2015, e um deles mantendo responsabilidades como deputado.
Essa proposta avançava que, na atual condição do país, seria autêntica alquimia acomodar ao mesmo tempo o descongelamento das carreiras, o aumento do emprego público, as atualizações salariais, o pagamento atempado aos fornecedores do Serviço Nacional de Saúde e a redução de impostos. Daí que afirmassem prematura a intenção de desagravamento fiscal para todos os escalões do IRS nos próximos anos, chegando a considera-la estratégia típica da direita, por não ser tradição da esquerda (ou pelo menos da que eles assim consideram) a redução de impostos.
O aproveitamento pelos jornais e televisões só não foi maior, porque o INE veio confirmar a bondade da estratégia de Mário Centeno com um crescimento mais pujante e um défice ainda mais reduzido. Jerónimo de Sousa logo cuidou de afirmar, preto no branco, que esses números desmentiam tal estudo.
Vale a pena, porém, acrescentar que, do ponto de vista estritamente técnico, ele é quase irrefutável na sua fundamentação. O problema é não fazer qualquer sentido dissociar a Economia da Política, que a condiciona: uma componente muito importante nos resultados explicitados pelo INE é o clima de otimismo instalado na sociedade portuguesa, que tanto alavanca a predisposição para o consumo, como para o investimento. E isso influi decisivamente no sucesso da atual governação. Por isso as direitas, quer representadas pelos partidos, quer pela comunicação social, apostam em inflacionar a importância do que pressentem reduzir esse entusiasmo coletivo. Daí passarem o verão a falar de incêndios ou de roubos de armas em Tancos.
O mérito de António Costa e da sua equipa reside no facto de não darem mostras de nervosismo perante tais tentativas de puxarem o ânimo nacional para baixo. Porque subsiste a confiança em que prevaleça a convicção de se estarem efetivamente a reparar os danos herdados das direitas e a cuidar de um país mais próspero e onde as pessoas se sintam mais felizes.
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