Por muito que esteja seriamente endividado o grupo empresarial de Pinto Balsemão não estará disposto a abdicar de um dos seus principais objetivos: influenciar seriamente o rumo político do país de forma a impedi-lo de evoluir para aquele que a seu ver será o pior dos cenários a médio e longo prazo: a demonstração de uma alternativa viável de esquerda para a que as direitas quiseram aplicar a coberto do alibi da troika. Por isso mesmo, perdendo alguns anéis, não prescinde de criar uma agenda mediática através dos dois meios de comunicação, que considera mais influentes: a SIC e o Expresso. Compreende-se, assim, o tipo de manipulação, que diariamente vemos nos écrans dos canais de Carnaxide e lemos no jornal a eles associado.
Ao sábado a edição semanal do «Expresso» interessa-nos, sobretudo, por indiciar por que vias intentarão os «jornalistas» de um e outro órgão, manipular a opinião pública tentando influenciá-la numa ou noutra direção. E ela é evidente no regresso à tentativa de forçar António Costa a remodelar o governo, mudando nomeadamente de ministros da Administração Interna, da Defesa e da Economia. Isso bastaria para passar a ideia de confirmação de existir um primeiro-ministro «desgastado» e que, pela renovação da equipa, procuraria um novo élan. Não bastaria para o pôr em causa, mas repetiria a lento trabalho de desgaste, que desenvolveu com tanto sucesso ao longo dos seis anos de governação de José Sócrates, que parecia imparável nos primeiros, mas não resistiria depois às mentiras e manipulações, que se seguiriam e caindo definitivamente por efeito da crise dos subprimes.
Quem está por trás desta estratégia das direitas sabe que pôr em causa o governo de António Costa não resulta da forma tosca como Passos Coelho o pretende fazer: é um trabalho a longo prazo, que vá criando um desgaste lento, mas contínuo, e que possa ser aproveitado, quando circunstâncias externas propiciem o golpe fatal.
Daí esta conjugação com a Eurosondagem, que dá o ensejo de transmitir a ideia de um governo em perda no último mês, com a descida de mais de cinco pontos no seu barómetro. Explora-se então o que ainda sobra dos casos dos últimos meses (daí o trazer para a capa a entrevista com a líder da Associação das Vítimas de Pedrógão, que não enjeita o seu alinhamento à direita como se viu durante a semana, quando se reuniu com Assunção Cristas) e divide-se o esforço de sabotagem com o «Público», que voltou a acenar anteontem com a história das armas de Tancos.
Mas esta edição do «Expresso» é rica noutros sinais no mesmo sentido: depois de «abrilhantar» as sessões de Castelo de Vide, Sérgio Sousa Pinto é promovido a prometedor artista plástico com um desenho crítico para com a situação do país (e implicitamente com a governação) e põe-se Miguel Sousa Tavares a reduzir o PCP à caricatura da defesa da Coreia do Norte e da destruição da Autoeuropa, quase se implorando para que António Costa ponha fim à coligação parlamentar e, obviamente, aos atuais equilíbrios políticos.
Para concluir esta intriga as direitas ainda chamam à colação Marcelo Rebelo de Sousa dando-o como muito preocupado com uma possível maioria absoluta do PS, pelo que dedicaria os próximos meses a criticar sempre que possível a governação socialista a fim de preparar o golpe palaciano capaz de derrubar Passos Coelho e substitui-lo por líder mais competente para as direitas. Contando para isso com um novo trunfo: o inevitável Miguel Relvas com quem fica prometida entrevista de fundo para o próximo número, deixando-se desde já alguns aperitivos nada simpáticos para com o seu antigo cúmplice.
Não é preciso ser muito sagaz para adivinhar tudo o que subjaz a esta estratégia. Caberá às esquerdas frustrá-la prosseguindo com o rumo que se vai confirmando como o mais fiável para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses.
Sem comentários:
Enviar um comentário