Os dias mais recentes têm sido férteis em notícias que confirmam a realidade contraditória em que sempre vivemos. Umas dão sinais positivos para o cumprimento das nossas aspirações, outras parecem dar razão às mais sombrias inquietações.
Comecemos pelas últimas e Trump teria necessariamente de ganhar o merecido destaque com o discurso de rufia pronunciado na Assembleia Geral das Nações Unidas. Vale-nos que, previdentes, os chineses já lhe puseram os pontos nos is: atreva-se o estarola a ir mais além do que as palavras e já sabe com quem se terá de haver. Na sua sagacidade habitual, Ferreira Fernandes conclui a sua crónica diária do «Diário de Notícias» com este diagnóstico: “Kim Jong-un é pírulas e dele tudo se pode esperar. Ainda mais grave do que o suicida que ameaça atirar-se do quinto andar, ele quer levar o prédio e até o bairro com ele. Mas, então, Trump goza e chama-lhe Rocket Man? O que eu quero dizer é seguinte: o gajo do quinto é maluco, mas o instigador do pátio é parvo.”
Notícia igualmente desencorajante para quem procura ver consolidado um Portugal melhor é a dos professores, que andaram a reclamar por serem colocados a grande distância de casa e que, na maioria, integravam o grande contingente de precários a quem o Ministério da Educação transitara para a condição de contratados sem termo. O exemplo perfeito daquela situação de se dar uma mão e logo se ver agarrado pelo braço todo.
Há exigências corporativas - caso dos enfermeiros, dos magistrados ou dos juízes - que pretendem pronta satisfação de todas as suas pretensões, quando sabem escasso o orçamento para todas elas contemplar. O que levava Pedro Nuno Santos a considerar dias atrás que “o que nós hoje temos é muitas áreas profissionais a sentirem que têm um governo que os ouve, que proporciona avanços, e portanto querem aproveitar o facto de terem uma maioria como esta para reivindicar coisas que sempre quiseram reivindicar no passado e para as quais não tinham interlocutor. Hoje têm!.”
Outro sinal ainda negativo dos tempos foi dado pela secretária de Estado Catarina Marcelino, que revelou ser de 16% a menos o salário médio das mulheres portuguesas em relação aos homens, com o acréscimo de serem elas as mais sobrecarregadas com os trabalhos em casa e com a educação dos filhos, subindo essa diferença para 26% nas profissões mais qualificadas. E prenúncio de como isso poderá perenizar-se é o facto de estarem sub-representadas nos cursos de base tecnológica, que fundamentarão os mais bem sucedidos empregos no futuro.
Notícias de sinal positivo têm sido as que dão conta da redução significativa de licenciados no ensino privado (menos 41% em dez anos) o que se conjuga com uma importância acrescida das Universidades e Politécnicos do Estado. Ou o parecer negativo (ainda que não vinculativo) da Anacom à venda da TVI ao plutocrata da Altice. Mas a que mais terá animado a generalidade dos portugueses é o compromisso do desagravamento fiscal em todos os escalões do IRS em 2018. Por muito que custe a Passos Coelho e a Assunção Cristas - e sobretudo aos titereiros, que os têm como momentâneas marionetas - a melhoria dos rendimentos e da qualidade de vida vai-se consolidando no imaginário coletivo, que é o nosso.
Deixemos para o fim o mais risível: o ai-jesus das direitas nacionais na Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, a considerar a Europa a situar-se entre a Espanha e a Bulgária e Paulo Portas a vir-se dar ares de grande pensador a uma conferência onde se multiplicou nas mais dupondianas banalidades.
Pessoalmente um dos maiores prazeres resultou do regresso de António Sampaio da Nóvoa ao nosso convívio através de uma crónica no «Jornal de Letras» em que cita Georges Steiner para reconhecer que “não é na universidade, mas na escola, que se travam as lutas decisivas contra a barbárie e o vazio. As balas perdidas não vêm apenas das armas, mas da ignorância, da insensatez e da irresponsabilidade”.
Faz-nos falta contar com a sagacidade do professor que, lamentavelmente, não cumpriu o desígnio de ser o grande Presidente destes dias que vivemos. Mas, hélas!, se dantes os enganos provinham de papas e bolos, agora vão sendo feitos de selfies e de hipócritas afetos.
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