Contrariar o domínio dos mercados aeronáuticos pela Boeing e pela Airbus é o objetivo do projeto russo-chinês de construção de um novo avião comercial, que promete vir a dominar as notícias num prazo muito curto. Essa convergência nas sinergias entre Moscovo e Pequim poderá contrariar a ameaça de um mundo unipolar dominado pelo imperialismo norte-americano? Trata-se de um desafio, que ambos os governos tentam vencer, cientes de ser a atitude mais inteligente para alterar as relações de forças atualmente prevalecentes.
Há, no entanto, grandes discrepâncias a separá-los e a pôr em causa essa sintonia a começar pela realidade demográfica: a Rússia é o maior país do mundo com mais de 17 milhões de quilómetros quadrados e é escassamente povoado (142 milhões de habitantes), enquanto a China, com quase metade dessa superfície (9,6 milhões de km2), tem dez vezes mais em população (1374 milhões de habitantes).
Na fronteira comum de quase 4200 quilómetros as cidades não são particularmente relevantes: Blagoveshchensk, Khabarovsk e Vladivostoque no lado russo e Manzhouli, Mohe, Heihe e Suifenhe do lado chinês. As riquezas são, porém, enormes nas regiões correspondentes a tai vizinhança: concentram-se aí 60% das florestas, 45% do ouro e prata, 80% do carvão, do estanho e do chumbo e 98% dos diamantes extraídos anualmente a nível de todo o vasto território russo.
Há que considerar, igualmente, uma história a alternar entre cumplicidades e violentas hostilidades: depois de, em 1950, Mao e Estaline assinarem um tratado de amizade, os dois países alimentaram um conflito violento a partir de 1969, quando se temeu ver ambos a avançarem para uma guerra nuclear. Foram milhares as vítimas mortais dos confrontos na fronteira do Xinjiang e na ilha de Damanski. Terá sido já na era de Gorbachtov, que o clima voltou a mudar entre Pequim e Moscovo, com o posterior estabelecimento de um partenariado estratégico em 1996 e de um Tratado de Amizade e Cooperação em 2001 como contraponto à expansão da NATO até junto ás fronteiras ocidentais da Rússia. Desde 2005 passaram a ocorrer exercícios militares comuns, que prenunciam a preparação para potenciais conflitos futuros.
Hoje há uma grande dependência da Rússia da China, que se tornou no seu 2º maior mercado exportador, sobretudo de petróleo, de gás e de equipamentos militares. A construção de novos oleodutos e gasodutos faz prever que essa dependência tende a agravar-se, já que a Rússia é apenas o 15º maior mercado para onde a China exporta.
Há igualmente tensões não despiciendas por causa da emigração crescente de chineses para as regiões siberianas onde já constituem 4% da população e suscitam situações de rejeição xenófoba. No entanto, fica claro que se souberem vencer os obstáculos colocados à sua progressiva interação, russos e chineses criarão na região um imbatível mastodonte geopolítico, capaz de suscitar pesadelos noturnos aos estrategas do Pentágono.
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