Até Passos Coelho ascender ao cargo de primeiro-ministro tornara-se normal, que uma significativa parte dos alunos do ensino secundário avançassem para estudos universitários, pois seriam eles a garantir-lhes um futuro mais promissor. A ideia transmitida pelos governos socialistas de António Guterres e de José Sócrates era a de que Portugal nunca poderia competir em produtividade com os países do Terceiro Mundo em produtos e atividades de pouco valor acrescentado pelo que a alternativa seria contar com novas gerações extremamente bem formadas do ponto de vista académico, preparadas para tornar o país num dos mais desenvolvidos nas indústrias tecnologicamente mais avançadas.
De permeio os governos de Durão Barroso e Santana Lopes puseram em casa essa dinâmica a que ficou ligada a notável personalidade de Mariano Gago, mas não a conseguiram travar.
Passos Coelho sim e de que maneira. Provavelmente por ter sido um aluno cábula e os seus conhecimentos nunca terem ido além da posse de uma importante network, imaginou os compatriotas à sua imagem e semelhança, nunca acreditando na sua capacidade para mudarem o tecido empresarial do país. Por natureza imaginou que os portugueses só conseguiriam ter futuro se servissem de operários e empregados pouco especializados de investidores estrangeiros aqui sedeados para aproveitarem as oportunidades de uma geografia e uma meteorologia generosas. Aos muitos, que tinham conseguido um diploma universitário e se apresentavam na linha da frente para concretizarem a Visão de sucessivos governos socialistas, mandou-os emigrar, pois o país deles prescindiria sem qualquer remorso.
Nos anos da troika a queda abrupta de estudantes matriculados no ensino superior público indiciou esse Portugal no diminutivo, onde, parafraseando O’Neill, juizinho é que seria preciso. E muitos pais com os orçamentos apertados pelos cortes nos vencimentos, nas pensões de reforma ou nas carreiras congeladas, recuaram no propósito de investirem seriamente nos estudos dos seus filhos. Se seria caso de tirarem um diploma e ficarem reduzidos à opção entre o desemprego ou a emigração, mais valeria ficarem por cá a buscarem alguns trocos nos call centers.
O regresso das governações socialistas veio trazer de volta a ambição num país mais próspero e desenvolvido, com a população a encontrar maior empregabilidade na economia do futuro. Os resultados começam a ver-se: amanhã quase quarenta e cinco mil estudantes estarão a matricular-se nas universidades e nos institutos politécnicos do setor público. E, no final das duas fases seguintes, de concurso ao ensino superior, serão mais de quarenta sete mil os que iniciarão o novo ciclo na sua formação académica. Retomam-se assim os números interrompidos em 2010, confirmando os anos de governação das direitas como tempos negros que não se pretenderão repetidos. E o governo mostra-se muito ativo no apoio escolar com muitos milhares a dotarem-se desde já de bolsas, que facilitarão os sacrifícios das respetivas famílias e com um combate ativo ás execráveis praxes, que se desejam cada vez mais extirpadas dos ambientes escolares.
Pode-se dizer que o legado de Mariano Gago volta a ser devidamente respeitado.
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