Tenho aqui afirmado que existe uma contínua repetição das mesmas estratégias por quem manobra os políticos das direitas como suas marionetas acéfalas, controla jornais e televisões fazendo-os porta-vozes das suas fake news ou notícias criteriosamente distorcidas para darem da realidade um retrato bem diferente do verdadeiro e tendo por objetivo primordial o travão de tudo quanto possa significar a reparação das obscenas desigualdades sociais, após as terem agravado indecorosamente durante a vigência do governo da troika.
Há por estes dias um filme que reconhecemos de outros tempos, nomeadamente quando José Sócrates começou a perder o apoio da maioria dos eleitores e se viu enleado no colete de forças em que continua aperreado. Quem olha para a luta corporativa da classe dos enfermeiros, não pode esquecer a dos professores, quando era Maria Lurdes Rodrigues a titular do ministério da Rua 5 de outubro. O que se viu então senão uma aliança tática entre os apoiantes de Crato, que tanto criticava o suposto «eduquês» e tinha como tropa fandanga os «sindicalistas» da UGT, e os da Fenprof, com Mário Nogueira então promovido a voz tonitruante da espicaçada revolta dos professores?
O governo de Sócrates terá ouvido o dobre de finados na célebre manifestação, que encheu a capital com milhares de docentes, que não tardariam a ter a devida paga: nos quatro anos de governo de Passos Coelho, que tanto ajudaram a guindar ao poder, viram rendimentos e direitos perdidos sem mostrarem a mínima coragem, que antes haviam assumido, na contestação ao governo socialista. E, no entanto, ninguém lhes contesta alguma razão nos protestos então assumidos. O problema é que se mal estavam, pior ficaram.
Podia-se pensar que a lição seria aprendida por outras classes profissionais, que revelassem a sagacidade de compreenderem quanto pior podem ficar se contribuem para contestar um governo apostado em recriar condições de maior justiça para a generalidade dos portugueses, incluindo os que só se atêm na sua miopia corporativa. Os enfermeiros estão a demonstrar que, podem ter a inteligência bastante para se licenciarem, mas falta-lhes a necessária para compreenderem o tipo de manipulação de que estão a transformar-se em meros fantoches.
Ninguém contesta que existe alguma razão na frustração com que se vêem remunerados e considerados no mundo do Serviço Nacional de Saúde. No entanto não consta existir qualquer incómodo com o que vivem no dia-a-dia nos hospitais privados onde a situação está longe de ser diferente da vivida nos equipamentos públicos.
Não há também quem se lembre de terem tugido ou mugido um pouco que fosse, quando Paulo Macedo era o ministro da Saúde e mostrava por eles um desprezo, que se traduzia na emigração intensiva de milhares e milhares de enfermeiros para outros países.
Agora avançaram para uma greve impulsionados por uma bastonária reconhecidamente do PSD e tendo o aval dos sindicatos pertencentes à UGT. Pensou-se que o PCP, através do sindicato do setor integrado na CGTP, estaria a demonstrar o tal conhecimento do saber de experiência feito com as lutas contra o governo de Sócrates, mas foi aí que as esquerdas voltaram a ser iguais a si mesmas: Catarina Martins logo cuidou de apoiar a luta lançada pela bastonária e os sindicatos das direitas como se assim fosse possível dela assenhorear-se ou, pelo menos, tornar-se-sua coautora. E Jerónimo de Sousa sentiu-se no dever de lhe ir no encalço, porque preocupa-o mais a rivalidade com os vizinhos a seu lado na bancada do qua a tão urgente contra aqueles que do outro lado do hemiciclo andam a criar as condições para porem em causa o governo.
Mas a tal estratégia antissocialista, que faz da luta por interesses corporativos a oportunidade para passar a ideia de uma contestação popular contra o governo, repete velhas práticas como a insidiosa campanha contra Fernando Medina em que se aliam novamente as direitas com o PCP através do inevitável José António Cerejo. Uma vez mais a vontade de derrotar um socialista poderá virar-se contra a metade esquerda dos criadores da campanha: é que julgando promoverem a votação de João Ferreira estarão provavelmente a impulsionar a de Assunção Cristas. Será isso o que irá efetivamente ao encontro dos interesses representados por quem apoia o Bloco ou o PCP?
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