Na semana passada emiti aqui uma opinião crítica a respeito da greve da Autoeuropa. Apesar de ser conhecida a minha condição de socialista da velha guarda essa posição não comportava qualquer risco porquanto, sendo estritamente militante de base do Partido e sem atividade efetiva há vários meses dada a divergência com a estratégia seguida aqui para o Seixal, onde persiste o controle do Partido por uma «casta», que só se representa a si própria e aos seus interesses, quem me lesse sabia que tal posição apenas responsabilizava a minha pessoa.
Desde sábado passado tão só ligue a televisão para ouvir o que dizem os vários canais, levo sucessivamente com a reprodução de uma opinião da secretária-geral adjunta, que só pode ser lida como irresponsável. De facto, por muito que os militantes de base contestem as lutas internas, que se processam na Autoeuropa, vê-las criticadas por um dirigente com a importância de Ana Catarina Mendes só dá ensejo a que os suspeitos do costume usem e abusem das suas declarações para procurarem retirar dividendos da intriga fácil dentro da atual maioria, que apoia o governo.
Na política os militantes de base podem dizer o que lhes vai na alma conquanto mantenham o respeito pelos valores fundamentais da organização de que são militantes. Os seus dirigentes têm de mostrar outro recato, e por isso mesmo me causaram em tempos idos tanta urticária as posições sucessivamente defendidas por Manuel Alegre, Ana Gomes ou Sérgio Sousa Pinto, que prejudicaram objetivamente o partido de que somos militantes.
A ideia com que fiquei deste episódio é a de nunca a dirigente em causa ter pensado na exploração a que as suas palavras seriam sujeitas. Porque, de outro modo, como pode o Partido mostrar uma atitude assertiva para com os seus parceiros de maioria, através de Pedro Nuno Santos, que tanto visitou o Forum Socialismo organizado pelo Bloco de Esquerda, como a Festa do Avante, se logo a seguir se proferem declarações incendiárias tão gratas às direitas e aos editores dos telejornais?
O caso Autoeuropa não pode, a nível político, ser tratado mediante declarações para os jornais ou para as rádios. A estratégia correta passa por reuniões, que se sabem já ter decorrido entre membros do governo e a administração da Volkswagen, quer cá dentro, quer lá fora. E com a discussão a nível partidário entre as direções do PS, do Bloco e do PCP. Se essa discussão começa logo por ser inquinada com afirmações extemporâneas, a base negocial estreitar-se-á demasiadamente e sem qualquer proveito para quem nela deve intervir com sensatez.
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