Muito embora perfilhe de há muito a ideia de se conseguirem encontrar nos campos de futebol muitas das mais eficientes metáforas sobre a vida, e ter manifesta simpatia por um dos chamados «grandes» - embora evite disso falar aqui nas redes sociais - também não deixo de considerar o carácter de se tratar de um dos tais três éfes, que tanto têm embrutecido os portugueses e os impedem de se concentrar no que mais lhes deveria interessar: a transformação da realidade em algo mais próximo do sentido utópico.
Se o Fado já se libertou do estigma a ele criado no tempo do fascismo, muito graças a cantores que lhe conferiram a devida dignidade - a começar pela própria Amália e a desembocar no Ricardo Ribeiro e no Camané, sem esquecer Carlos do Carmo de permeio! - o Futebol, e esse cenário de grande alienação chamado Fátima, continuam a justificar as mais acerbas críticas.
No caso do chamado desporto-rei as personalidades truculentas, que dele se têm servido para ganharem uma notoriedade pública impossível de alcançarem noutras quaisquer atividades realmente merecedoras de relevância, são o melhor exemplo de aí campear a mediocridade mais superlativa. De presidentes de clubes a treinadores conhecidos pelas «inovações» no trato da Língua Portuguesa até descambarem nos comentadores, que enchem horas e horas de emissão em quase todos os canais nacionais, todos se conjugam para tornar mais rasteirinho o nível de utilização dos neurónios por quem se deixa embarcar por tal gente..
Há, no entanto, um salto qualitativo na tentativa de utilização do futebol como motor de adormecimento das consciências e ele está sedeado na presidência da Liga de Clubes que, uma vez mais, volta a tornar o domingo das eleições num dia de jogos de futebol, numa aposta assumida em aumentar o índice de abstenção.
Os dias de eleições deveriam ser especiais e o ato de votar o mais importante a neles cumprir. Contribuir para que a participação se maximize constitui um imperativo básico da Cidadania. Ao secundariza-los nas mentes de quem tanto se focaliza nos acontecimentos futeboleiros, a Liga demonstra a sua natureza inimiga da Democracia.
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