quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Já lá vem outro carreiro!

Uma das principais questões, que se vem colocando na política europeia dos nossos dias, é a de saber como se pode combater o populismo protofascista, que tem colhido inquietante dimensão em sucessivas eleições, desde a Áustria à Holanda, da Finlândia à Hungria, da França à Alemanha.
Em Portugal o episódio André Ventura, em Loures, promete acabar mal, mas nele se testa a possibilidade de, seguindo-lhe os passos, as direitas conseguirem apoio eleitoral, que lhe anda a escassear mediante a apresentação tradicional das suas propostas políticas.
Nas semanas mais recentes temos tido o privilégio de acompanhar as candidaturas socialistas aos órgãos autárquicos do concelho de Almada e elas comportam a resposta mais sábia para impedir que a serpente consiga sair do ovo. Ela reside na efetiva proximidade com os eleitores, mesmo os que se dispersam pelas zonas menos densas do território municipal e dando uma especial primazia aos que sentem os custos mais elevados da progressiva letargia de quem o tem gerido há décadas.
Têm sido constante as queixas sobre a ineficácia da CDU à frente do concelho e das suas freguesias, permitindo que a limpeza se degrade e a segurança seja descurada. A única exceção é a da Costa da Caparica onde a ação determinada do socialista José Ricardo mostrou a viabilidade de alternativas conducentes a uma efetiva melhoria da qualidade de vida da população. É que, a exemplo do proposto pela Sandra Chaíça na Caparica & Trafaria, pela Cátia Quintela no Laranjeiro, pela Maria d’Assis em Almada ou pelo Pedro Matias na Charneca da Caparica, os candidatos socialistas não enchem o programa de promessas de pressão sobre o governo ou outras instituições do Estado para que sejam elas a investir e concretizar aquilo que as vereações comunistas identificam como necessárias.
O que está consagrado nos programas desses candidatos às freguesias e de Inês de Medeiros à Câmara é a assumpção do cumprimento desses objetivos através da sua efetiva intervenção. Os recursos até virão de programas europeus ou do Programa de Estabilidade, seja ele o atual ou aquele que já se começa a delinear para ser implementado depois de 2020, mas ninguém no seu juízo pode acreditar que, sem a efetiva liderança e coordenação dos autarcas eles cheguem a bom porto.
Nenhum candidato socialista perspetiva a possibilidade de delegar em qualquer outro, dos concelhos vizinhos, a defesa dos interesses dos munícipes almadenses, como parece constituir a cultura da vereação, que vê agora concluído o seu mandato com as eleições do próximo domingo.
As efusivas manifestações de apoio aos candidatos socialistas, onde quer que se dirigem por todo o município, permite acreditar num excelente resultado, tão só decresça o abstencionismo e a vontade de mudança constatada no terreno se reflita em votos nas urnas.
Se há quatro anos a vitória do Partido Socialista na Costa da Caparica abriu caminho para a afirmação de uma política inovadora, sempre próxima da interação com os munícipes, este escrutínio de 2017 poderá resultar numa mudança decisiva para o futuro de quantos pretendem que Almada possa ser bem melhor.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Conivências que muito explicam

A fotografia abaixo mostra alguns dos mais conhecidos jornalistas portugueses a gozarem umas férias nas neves suíças como aquelas de que, em ato de contrição, José Gomes Ferreira confessa ter sido um dos contemplados a expensas do Grupo Espírito Santo.
Para além dos aspetos mais risíveis, já aqui abordados num outro post anterior («Um livro que não vou ler»), ficámos a saber que o dito jornalista faz ato de contrição por ter-se deixado embalar pelos banqueiros, que lhe ofereciam tais prazeres e aos quais se encarregava de fazer publicidade nos seus comentários televisivos.
Mas não é só nesse livro, que confirmámos a óbvia promiscuidade entre jornalistas e os sucessivos candidatos ao título de Donos Disto Tudo: em «Apanhados», de António José Vilela, descobrimos que Pedro Santos Guerreiro era uma espécie de moço de recados de José Maria Ricciardi distorcendo a informação transmitida pelo jornal de que era então diretor - o «Negócios» - em benefício de quem publicamente conspirava para substituir o primo à frente do grupo Espírito Santo.
Que esse mesmo Pedro Santos Guerreiro é o atual diretor do «Expresso» - embora abunde quem ainda julgue Ricardo Costa a desempenhar tal função! - explica muitas coisas, que vêm ocorrendo nesse semanário. Nomeadamente o inusitado relatório secreto sobre o desaparecimento de armas em Tancos de que se fez tenaz paladino. Ou o súbito silenciamento dos Panama Papers, depois de anunciado com estrepitosas fanfarras.
O jornalismo português está, de facto, muito doente depois de se ter prostituído a quem melhor o remunerasse. Assim se explica a falta de credibilidade com que é hoje considerado...

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Um sabotador, que tarda em libertar o país do lastro que representa

É sabido que Carlos Costa demonstrou plenamente a incapacidade técnica e a parcialidade partidária, que o desqualificaram totalmente para a continuidade do desempenho das funções que ocupa no Banco de Portugal. Depois da forma como geriu a crise financeira, que levou à sucessiva derrocada de algumas das principais instituições bancárias nacionais e espoliou milhares de pequenos investidores - ou até de desprevenidos clientes demasiado crédulos para as vigarices dos gerentes das respetivas contas! - deveria ter sido ele a sair pelo seu pé da instituição, abrindo espaço para a sua substituição por quem revelasse mais saber, competência e imparcialidade.
Assim não sucedeu, porque nem Cavaco, nem Marcelo, facilitaram o que seria um despedimento com fundamentadas razões de justa causa.
Não contente com isso, o governador tenta evitar o que prevê vir a suceder: nenhum dos seus delfins (Hélder Rosalino, Sérgio Monteiro, etc.) poderá continuar o seu trabalho de sapa em favor de quem superintende as direitas. A tentativa de impor critérios para a independência do Banco de Portugal do poder político - que com ele foi uma anedota durante a vigência do governo anterior! - comporta o desespero de saber condenada e infletida a orientação da instituição tão só ele seja dela afastado. Mas tenta elevar a voz onde ainda possa ser ouvido e erigido como mártir de uma maquiavélica conjura socialista para neutralizar os seus esforços.
Uma vez mais, com a determinação do costume, Centeno já lhe deu o devido troco! Embatucando-o, instando-o a retratar-se! Mas, é óbvio, que tão só ameaçado, o cobarde voltou a refugiar-se na toca!

As razões porque os resultados nas eleições alemães podem ser melhores do que parecem

Eram consideradas as mais importantes eleições do ano e não desiludiram quem nelas perspetivava consequências determinantes para o futuro imediato do espaço europeu. Ao penalizarem os partidos do centro e darem à extrema-direita um resultado indecoroso os alemães revelaram-se principalmente sensíveis, no pior sentido, ao drama humanitário, que fez convergir para as suas cidades ocidentais alguns milhões de refugiados do Médio Oriente islamizado. Mas, que as melhores votações nessa força política protofascista tenha vindo do antigo Leste comunista - onde a presença dessa população emigrante é diminuta! - diz bem como existem algumas nuances entre causas e consequências, sendo bem mais relevante o que parece do que aquilo que é.
O sucesso da Alternativa para a Alemanha (AfD) decorreu de uma estratégia, que já resultara com Trump e para a qual as forças democráticas ainda não encontraram paliativo. Um analista particularmente sagaz, Joerg Forbrig, explica como ela se concretizou: com uma periodicidade certa como um relógio “todas as semanas, por vezes duas vezes por semana, surge uma afirmação polémica de um dos candidatos”. Por exemplo que a Alemanha deveria orgulhar-se do comportamento dos seus soldados durante as duas Guerras Mundiais.
Divulgadas pelos media, essas atoardas são discutidas, muitas vezes com indignação, levando quem as proferiu a desculparem-se com o facto de não terem expressado da melhor maneira as suas ideias. No entretanto, todos os principais órgãos de informação já lhes tinham dado espaço maior na sua disseminação.
A partir daí os insatisfeitos, os frustrados, os que mais facilmente aceitam o preconceito como explicação para o seu próprio demérito, veem nessa força política a oportunidade de, pelo voto, expressarem os seus piores desígnios. Mesmo que, interrogados a tal respeito, neguem a condição de fascistas, nazis, sequer racistas.
Explicam-se assim muitos dos votos na AfD: no Leste o nível de vida ainda está aquém da média alemã e os lugares de topo nas empresas ou na administração pública foram tomados de assalto por quem veio do lado ocidental. Enquanto essa desigualdade perdurar a extrema-direita encontrará terreno fértil para nele cavalgar.
Os 93 ou 94 deputados, que ocuparão no Bundestag são uma dor de cabeça para Merkel, tendo em conta a determinação dos sociais-democratas em encabeçarem a oposição. É que as visões políticas de liberais e de verdes são tão incompatíveis, que o futuro governo poderá atolar-se numa longa letargia pantanosa, com efeitos numa União Europeia onde Macron ambicionava impulsionar uma reforma de cunho federalista agora seriamente inviabilizada por um desses parceiros da nova coligação governamental de Berlim. O que começa por ser uma boa consequência destas eleições, de tal forma essa transformação pareceria mais destinada a satisfazer o ideário neoliberal do seu proponente do que a real necessidade dos povos europeus.
Outro reflexo positivo dos resultados de domingo é a decisão de Martin Schulz em liderar no seu partido a intenção de o redimir a partir de tão fraco resultado. A partir deste momento mais frágil, a esquerda alemã poderá aproveitar a inconsequência do novo governo para defender uma alternativa bem mais consentânea com os seus valores. Ainda que não possa subestimar Merkel que, mesmo nas piores alturas, consegue encontrar solução para as suas fraquezas: veja-se a forma como em 2007 soube permanecer estoicamente indiferente ao cão trazido para uma reunião a dois por Vladimir Putin, que sabia ter ela uma fobia sobre os caninos desde precoce e difícil experiência. Ao compreender que o presidente russo manifestava nesse gesto a sua própria insegurança, conseguiu manter-se impassível ao que para ela era uma íntima provação.
Essa capacidade para se manter imóvel tem sido, aliás, uma das marcas políticas do seu longo consulado à frente do governo alemão como os gregos bem sentiram na pele e nos bolsos, quando ela quase os deixou afundar-se na bancarrota antes de lhes dar uma mão não muito firme. A maior curiosidade será a de saber-se se, qual o «kagemusha» do filme de Kurosawa, ela consegue ver bem sucedido esse estilo nas novas circunstâncias ou se, sendo obrigada a movimentar-se mais do que o habitual, precipitará a sua queda. Tanto mais que tudo aponta já não poder contar com Schäuble no seu novo elenco.
Finalmente, a melhor notícia decorrente das eleições de domingo é o começo do estilhaçamento da aqui muito referida extrema-direita: a defeção de alguns dos seus principais dirigentes  na compita sobre quem consegue ser menos odioso do que os parceiros, repete o que, igualmente, está a acontecer com o partido de Marine Le Pen, também ela agora abandonada por aquele que fora o seu número dois. É uma tese a aguardar demonstração, embora com precedentes históricos já reconhecidos: após alcançar apoios eleitorais expressivos, muitos destes movimentos depressa tropeçam nas intrigas, nos ódiozinhos pessoais neles omnipresentes, reduzindo-se, mais tarde ou mais cedo, à sua insignificância substantiva.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A falta de legitimidade de uns e os alertas de outros

1. Porque as direitas andam a arvorar-se em campeões da reivindicação do desagravamento fiscal a todos os contribuintes, convém ter sempre presente, que foram elas quem, em 2011, aumentaram o IVA sobre a eletricidade e o gás consumidos pelas famílias, passando-o de 6% para 23%. No ano seguinte passaram o IVA da restauração de 13 para 23%. E 2013 foi o ano do colossal aumento do IRS com a redução dos escalões de oito para cinco, o aumento das taxas em cada um deles e a criação da sobretaxa. Tal significou que, comparativamente com o ano anterior os portugueses pagaram à Autoridade Tributária mais 3,3 milhões de euros do que no ano anterior.
É preciso topete para que, quem assumiu um tal passivo junto dos portugueses, se arme agora em virgem virtuosa e pretenda receber louros de políticas que, ao longo dos últimos dois anos, sempre procurou contrariar.
2. Os resultados económicos, financeiros e sociais da governação da maioria de esquerda têm sido muito positivos e motivado reações animadoras das mais diversas instâncias internacionais, mesmo daquelas (FMI, agências de rating, Comissão Europeia, etc.), que alimentam uma antipatia ideológica exacerbada a seu respeito. 
Serve isto de combustível ao nosso inveterado otimismo? Manifestamente não como o atestam alguns grilos falantes que, de uma perspetiva de esquerda, anotam os obstáculos à sustentabilidade do atual crescimento económico acima do que se verifica na média europeia. Um deles é Ricardo Paes Mamede, que merece ser aqui citado no que escreveu no blogue «Ladrões de Bicicletas», mesmo fazendo-o com o respeito do antigo Acordo Ortográfico, que temos aqui dado como extinto neste blogue. Assim, apesar dos cês antes dos tês de algumas palavras, aqui fica um texto lúcido sobre a atual situação do país, por quanto merece ser tido em conta.
“Isto não significa porém que os problemas estruturais que afectam a economia portuguesa estejam resolvidos. Mantém-se uma estrutura produtiva assente em actividades pouco intensivas em conhecimento e muitos exposta à concorrência internacional, um tecido empresarial com debilidades significativas nas capacidades de gestão estratégica, uma população activa pouco qualificada, uma estrutura demográfica desfavorável ao crescimento económico, custos elevados e/ou funcionamento ineficiente de serviços fundamentais para as actividades económicas (energia, financiamento, justiça), um elevado endividamento dos sectores privado e público (que é hoje muito superior ao que era há uma década). A isto acresce a participação numa zona monetária com lacunas fundamentais e que coloca as economias mais frágeis numa posição particularmente vulnerável a crises financeiras internacionais, e cujas regras orçamentais restringem fortemente a capacidade dos Estados para combater as recessões económicas com os poucos instrumentos que têm ao seu dispor.” 


Passar a certidão de óbito ao arco das obras estruturantes

Há uma dezena de dias o dirigente do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza publicou na «Visão» um texto muito interessante sobre o passo seguinte que pode ser trilhado pela atual maioria parlamentar: depois de ter dado uma machadada no tal «arco da governação», que dava invariavelmente o poder sempre aos mesmos, António Costa pode sugerir consensos com as direitas a respeito das obras estruturantes para além de 2020, mas dificilmente encontrará nelas atitude construtiva e vontade séria de participar no necessário consenso nacional.
Daí que proponha o fim do que chama o «arco das obras estruturantes», abrindo às esquerdas a discussão sobre os grandes projetos transformadores do país na próxima década. Na sua fundamentada perspetiva “quem teve a coragem de operar o óbito do arco da governação deve agora operar o óbito do arco das “obras estruturantes”. Mantendo-se este, o outro regressará mais cedo do que tarde. As “obras estruturantes” com financiamento europeu têm sido o principal suporte da captura do Estado por interesses privados, seja pela via das parcerias público-privadas seja pelo financiamento chorudamente derrapado de obras para alimentar grupos empresariais amigos. O “arco da governação” é a forma política deste ambiente. Este é o tempo para pôr fim a ambos. As esquerdas devem trazer para este combate precisamente o que trouxeram para o combate contra o arco da governação: alternativas de política e demonstração de que o arco das obras estruturantes não é uma inevitabilidade aritmética mas sim uma escolha política de quem o promove.”

A mudança de maré, que tarda, mas não deixará de chegar

Às esquerdas, a nível mundial, anda a custar a assimilação do que as congéneres portuguesas vêm demonstrando à saciedade: só unindo-se conseguem ter força bastante para fazerem prevalecer a sua Visão de futuro.
As eleições de ontem confirmam-no: na Alemanha o SPD paga os custos de uma aliança com a direita, que nada aplicou dos seus valores e deu livre curso a Merkel para concretizar os seus. Tivéssemos mantido António José Seguro à frente do PS aprovando a convergência por ele pretendida com as direitas (instigado por Cavaco Silva faltou pouco para a aceitar!) e veríamos replicados em Portugal estes tenebrosos resultados. Em França nas eleições senatoriais parciais, o PS e o PCF conseguiram aguentar os seus bastiões contra as investidas do movimento de Macron, mas mantiveram-se nos mínimos históricos alcançados nas últimas legislativas.
Face às direitas, que não conseguem apresentar soluções consentâneas com um desenvolvimento perverso do capitalismo, as esquerdas, só deixando-se de dogmatismos e encontrando os denominadores comuns que possam alavancar-lhe a união de esforços, conseguirão prevalecer.
No «New York Times»  Paul Krugman explicita o grande imbróglio em que as direitas se vêem, abordando os limites do Partido Republicano: andou anos a propagar mentiras sobre a possibilidade de um Sistema de Saúde extensível a todos os americanos e muito mais barato do que o execrado Obamacare, a exequibilidade de redução de impostos aos mais ricos sem ver o défice avolumar-se ou a irrelevância das ações humanas nas alterações climáticas. Agora, que não têm a desculpa de uma Administração na Casa Branca para impedir-lhes o cumprimento de todas as promessas, veem-se manietados pela realidade, pagando-lhes o respetivo custo. Se destruírem o Obamacare muitos dos que neles votaram e beneficiaram com as políticas de saúde implementadas nos últimos anos, virar-lhes-ão as costas e pôr-lhes-ão em causa a reeleição. Se avançarem com o pacote fiscal de favorecimento dos mais ricos terão de imprimir muitos dólares para aumentar a sua circulação, mas já não encontrarão o clima dos tempos de Reagan em que os mercados financeiros internacionais os absorveriam mesmo sabendo-os sem correspondência com a riqueza produzida. E os furacões mais recentes desmentem todos os fins dos verões as falácias sobre o aquecimento global.
Krugman pressupõe que, se é fácil aos republicanos chegar ao poder, mais difícil torna-se executá-los, divididos que se veem entre os eleitores a quem mentiram e os financiadores das campanhas eleitorais, impacientes por verem as suas indústrias poluentes sujeitas a menores restrições ambientais e sem os já magros encargos que a administração fiscal lhes impõe.
Parecendo, pois, ser um tempo em que as direitas parecem pujantes de capacidade de afirmação, é também aquele em que melhor se demonstra a sua inconsequência. É por isso mesmo que Martin Schultz faz muito bem em levar o SPD para a oposição, deixando Merkel entregue às condições chantagistas dos liberais. Já esta manhã, no twitter, Varoufakis previu o adiamento para São Nunca à tarde, do projeto de federalizar a Europa, tão oposta é a perspetiva do putativo aliado da reeleita chanceler.
Na oposição os sociais-democratas alemães poderão liderar a oposição e estabelecer alianças com o Die Linke de quem têm estado apartados num fútil sectarismo. Só assim se reduzirá o efeito da entrada da extrema-direita no Bundestag, cingido a inócuo altifalante do racismo e da xenofobia, mas sem nada de substantivo a propor, que não seja a reedição bafienta e criminosa do “Deutschland über alles”. Num comentário desta manhã nas redes sociais alguém sugeria com piada, que o entusiasmo de Marine Le Pen pelo sucesso de tal gente, significava implicitamente o desejo de ser por ela novamente invadida.
Quer na Alemanha, quer em França, quer na incapacidade dos republicanos EM conseguirem revogar de vez o Obamacare, demonstra-se que há mais marés que marinheiros. E a vaga que trouxe esta aparente ebulição direitista é a mesma que a levará de volta abrindo espaço para quem experimenta com sucesso outra receita política alternativa. 

domingo, 24 de setembro de 2017

Um livro que não vou ler

… mas que já sei o que lá dentro consta. De facto, o «jornalista» da SIC José Gomes Ferreira deu uma longa entrevista ao Jornal Económico em que antecipa muito do que escreveu mo seu mais recente título a saltar para as bancas das livrarias. Se no anterior tentava pôr-se em bicos dos pés para ver se alguém dele se lembrava para levar por diante o seu «programa» para o país - claro que ninguém lhe ligou! - agora vem candidatar-se a um lugarzinho ao sol no PSD, porque transforma Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa em super-heróis da saga BES.
Como maus da fita surgem Paulo Portas, que se teria demitido no dia seguinte ao de idêntico pedido de Vítor Gaspar, para forçar o governo a dar uma mãozinha a Ricardo Salgado; Marcelo Rebelo de Sousa, que sempre se considerou amigo do banqueiro; e, sobretudo, António Costa de quem «recorda» alusão ao facto de ter assumido que, com o PS no governo, nunca o universo Espírito Santo iria à falência. Melhor ainda, a imaginação do autor vai tão longe que até explica a substituição de António José Seguro por António Costa à frente do PS como tentativa deste último ainda ir a tempo de salvar os interesses do banqueiro em causa.
Temos, assim, uma engenhosa trama, feita de notícias falsas, de insinuações e de outras entorses à verdade dos factos, que se resumiria a isto: os contribuintes deveriam santificar os três heróis por os terem poupado a uma recapitalização do BES. E estamos fadados para estar nas mãos de quem está na política para defender os interesses dos que José Gomes Ferreira sempre tem denunciado como inimigos de quem vive do seu trabalho e paga impostos.
Poderíamos classificar tal historieta de delirante se ela não correspondesse aos objetivos insidiosos do trapaceiro, que a inventou. Daí que valha a pena denunciar nas redes sociais mais uma desfaçatez de quem ocupa imerecidamente algum destaque no nosso espaço público. Após ter ficado por vender uma boa parte da edição do livro anterior, esperemos que idêntico destino ocorra com este.

Refundação à vista no Serviço Nacional de Saúde

A proposta de refundação do Serviço Nacional de Saúde tal qual surgiu defendida por António Arnaut e João Semedo deverá estar a criar um nervoso miudinho muito intenso em quem tem levado por diante a política enunciada há umas quantas décadas por um antigo ministro das direitas, que a traduzia na frase «quem quer saúde paga-a!». Bastará a atual maioria parlamentar voltar a universalizar o direito à saúde, sem PPP’s nem outras incursões habilidosas dos interesses privados nessa área governativa para se constatarem veementes contestações contra quem nega a «liberdade dos mercados» se exprimirem.
Confessando-me pecador - o facto de não ter médico de família atribuído há mais de vinte anos tornou-me cliente assíduo dos hospitais e clínicas privadas! - não me conformo com o facto de ficar sempre a perder no balanço entre os custos anuais com a seguradora e o que dela usufruo. Há um par de semanas tive a desagradável surpresa de pagar mais de cento e cinquenta euros por análises, que julgaria integráveis nesse pacote, mas afinal dele excluídas por “já estar ultrapassado o plafond”.
É por isso que desejo sucesso para a iniciativa dos dois médicos em causa. E um deles, o criador do SNS até mereceria a homenagem de dar o seu nome ao novo edifício da Faculdade de Medicina em vez do já aprovado Reinaldo dos Santos ou do que as direitas pretendem impor para dar alguma relevância a quem foi mandatário das candidaturas de Cavaco Silva (só isso deveria bastar para o excluir ad eternum).
A expetativa é a de regressar aos postos médicos do serviço público e reencontrar a qualidade existente duas décadas atrás. Porque com a saúde dos portugueses não se deve brincar e muito menos transformá-la num negócio auspicioso para quem aposta na sua degradação para rentabilizar obscenamente os seus investimentos. 

A especialização do «Expresso» em “fake news”

Está a tornar-se frequente a publicação de “fake news” no «Expresso» destinadas a criar factos políticos, que se aguentam com a duração de um fosforo, mas capazes de suscitarem, durante algumas horas, a emissão de declarações enfáticas de Passos Coelho e Assunção Cristas e alguns entusiasmos momentâneos nos pivots dos telejornais.
Há uns meses foi o célebre pronunciamento, que incluiria a entrega de espadas a Marcelo Rebelo de Sousa e chegou a iludir quem tinha a responsabilidade de manter a cabeça lúcida e adivinhar a efetiva dimensão do caso: apenas um par de militares no ativo, despeitados por verem frustradas as suas ambições de carreira, e outros tantos na reforma, que lhes serviam de altifalante.
Se quisesse aprender a lição, o semanário de Balsemão mostraria maior prudência quando alguém, possivelmente relacionado com o mesmo grupo de estarolas lhe aparecesse com esta arrevesada notícia de um relatório secreto já desmentido por quem tinha autoridade e legitimidade para o produzir.
Noite adentro o «Expresso» tem procurado corrigir o tiro sem qualquer sucesso. Posto em xeque na praça pública, sofre mais um rombo na já depauperada credibilidade sem paliativo, que o impeça de aprofundar o sério risco de afundamento.
Balsemão, que tanto criticou as redes sociais por falta de seriedade no que nelas se publicam personifica o ditado de pela boca morrer o peixe. É que se do «Correio da Manhã», do «Sol», do «Observador» ou do «i» não se espera outra coisa, que não seja esta permanente violação das mais básicas regras deontológicos do jornalismo, existem cada vez menos dúvidas da legítima integração do «Expresso» em tão comprometedora companhia.

sábado, 23 de setembro de 2017

Quando pretensos sábios fazem exercícios de charlatanismo

Thomas Piketty costuma dizer que releva do mais puro charlatanismo o pretenso exercício de quem, julgando deter conhecimentos de Economia, faz previsões neles fundamentadas. Cuidando ela de uma realidade tão volúvel e em constante mutação, como é a organização económica das sociedades, é fútil afiançar que ela vai evoluir num ou noutro sentido. Como dizia um conhecido ex-capitão do F.C. Porto previsões, neste âmbito, só no fim do jogo.
Um outro economista de renome, Kenneth Arrow, que foi Prémio Nobel em 1972 e morreu em fevereiro deste ano, também considerou dramática a tendência para a Economia ter sido tomada de assalto por gente pouco séria. Comparativamente ele citava como a Astronomia, com os seus conhecimentos sérios sobre a posição dos astros, tinha sido descartada da opinião pública pelos astrólogos, que se presumiam sabedores o bastante para adivinharem futuros em função do aspeto do zodíaco.
Vêm estas referências a propósito do estudo apresentado esta semana por quatro economistas, dois deles conhecidos pelo comprometimento com o estudo económico, que fundamentara o Programa Eleitoral do Partido Socialista em 2015, e um deles mantendo responsabilidades como deputado.
Essa proposta avançava que, na atual condição do país, seria autêntica alquimia acomodar ao mesmo tempo o descongelamento das carreiras, o aumento do emprego público, as atualizações salariais, o pagamento atempado aos fornecedores do Serviço Nacional de Saúde e a redução de impostos. Daí que afirmassem prematura a intenção de desagravamento fiscal para todos os escalões do IRS nos próximos anos, chegando a considera-la estratégia típica da direita, por não ser tradição da esquerda (ou pelo menos da que eles assim consideram) a redução de impostos.
O aproveitamento pelos jornais e televisões só não foi maior, porque o INE veio confirmar a bondade da estratégia de Mário Centeno com um crescimento mais pujante e um défice ainda mais reduzido. Jerónimo de Sousa logo cuidou de afirmar, preto no branco, que esses números desmentiam tal estudo.
Vale a pena, porém, acrescentar que, do ponto de vista estritamente técnico, ele é quase irrefutável na sua fundamentação. O problema é não fazer qualquer sentido dissociar a Economia da Política, que a condiciona: uma componente muito importante nos resultados explicitados pelo INE é o clima de otimismo instalado na sociedade portuguesa, que tanto alavanca a predisposição para o consumo, como para o investimento. E isso influi decisivamente no sucesso da atual governação. Por isso as direitas, quer representadas pelos partidos, quer pela comunicação social, apostam em inflacionar a importância do que pressentem reduzir esse entusiasmo coletivo. Daí passarem o verão a falar de incêndios ou de roubos de armas em Tancos.
O mérito de António Costa e da sua equipa reside no facto de não darem mostras de nervosismo perante tais tentativas de puxarem o ânimo nacional para baixo. Porque subsiste a confiança em que prevaleça a convicção de se estarem efetivamente a reparar os danos herdados das direitas e a cuidar de um país mais próspero e onde as pessoas se sintam mais felizes.

A forte probabilidade de melhorar o espaço onde vivemos

A participação nalgumas ações de campanha no concelho de Almada tem-me demonstrado uma inesperada evidência: a atual maioria comunista sofre de uma usura, que torna possível uma profunda alteração no equilíbrio de forças existente nos órgãos autárquicos desde a Revolução de Abril. Sem retirar o mérito a importante obra feita, os atuais executivos da CDU na Câmara e na maioria das freguesias esgotaram as competências e a vontade, gerindo o território, que lhes tem cabido, com a inércia de um movimento cada vez mais travado pelo atrito do cansaço e das circunstâncias.
O que a Inês de Medeiros, o José Ricardo, a Sandra Chaíça, a Maria d’Assis, a Cátia Quintela ou o Pedro Matias personificam nas suas propostas políticas para a Câmara e as diversas freguesias de Almada é um novo entusiasmo e saber para solucionar os principais problemas identificados e sentidos no dia-a-dia pelos cidadãos. Não admira que no contacto com eles seja permanente essa vontade de mudança, que replique nestas eleições os resultados habitualmente colhidos nas legislativas, onde o Partido Socialista se tem assumido como a principal força política apoiada pelos votantes. Sintam-se os abstencionistas tentados a manifestarem pelo voto esse desejo de tudo mudar e a probabilidade disso acontecer multiplica-se.
Uma política de proximidade, que crie nos munícipes a sensação de terem quem os ouve e se apreste a ajudá-los a resolver os seus problemas mais complicados, a requalificação dos espaços degradados e onde a qualidade de vida mais se ressente, a valorização do património edificado e cultural passível de atrair uma parcela significativa dos fluxos turísticos, que se andam a congestionar na margem norte do rio, e a facilitação da capacidade empreendedora de jovens e menos jovens de forma a diluir a condição de dormitório da capital, justificam esta confiança em como Almada pode ser bem melhor.
Se estivéssemos noutras áreas geográficas nacionais a prioridade seria sempre a do combate ás políticas autárquicas das direitas que, até pelos seus valores ideológicos subjacentes, mais prejudicam as populações do que as beneficiam. Em Almada, e em muitos outros concelhos, onde a CDU se instalou como se o território de todos fosse só seu, está em causa a prevalência de alternativas para quem, de alguma forma, o poder absoluto perverteu.
Poderá tratar-se de um  sério abanão, que desperte quem se amodorrou e precisa de ser espicaçado a fim de retomar o que tem de melhor na sua génese, mas poderá chegar-se a uma outra dimensão da mudança: aquela em que com programas ambiciosos, mas exequíveis, se comprove a superior capacidade e competência de quem, numa outra perspetiva de esquerda, concretize a melhoria efetiva da vida de quem aqui vive.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Rajoy tornou-me apoiante da independência catalã

Os meus sentimentos relativamente ao independentismo catalão são contraditórios. Por um lado existe o reconhecimento de que só devemos a recuperação da independência em 1640 ao facto de Castela ter de se haver com dois movimentos centrífugos , entre os dois, apostando na repressão do que grassava na Catalunha. Acaso a opção tivesse sido a de oprimir a nação portuguesa, quiçá a Catalunha seria hoje um país independente e nós uma parte no todo espanhol.
Há, por outro lado, a questão do regime: sou sectariamente republicano e execro a Monarquia como possibilidade de sistema político tendo em conta a importância por ela conferida à hereditariedade e não ao mérito e reconhecimento dos líderes pelos cidadãos através do voto democrático. Assim, se a Catalunha anseia implantar uma República, tem todo o meu apoio emocional, porque não reconheço aos Bourbons qualquer legitimidade para se manterem como representantes da nação castelhana.
Repugna-me, por outro lado, a ideia de secessionismo apenas por motivos egoístas de comunidades pretenderem dissociar-se das que delas dependem para manter um nível de vida mais elevado. Por isso antipatizo totalmente com os flamengos belgas ou com os padanianos italianos, só porque se consideram prejudicados economicamente pelos valões ou por quem vive no mezzogiorno e querem deles afastar-se. É esse o único motivo de apreensão perante as reivindicações catalãs, quando invocam a superioridade económica da sua região/Estado como motivo primeiro para se separarem. Reclamassem apenas a questão da cultura e da língua diferentes e não lhes colocaria qualquer óbice.
No entanto, perante a reação inábil, mas prepotente, de Mariano Rajoy a dúvida dissipa-se e prevalece o reconhecimento do supremo valor das populações ditarem o tipo de coletividade em que se querem inserir. Por isso, se dúvidas tinha, o impedimento da realização do referendo acaba por definir o posicionamento: hoje, mais do que anteontem, estou com os catalães contra o comportamento colonialista do governo de Madrid.