1. Quero crer no que resultou consensualmente do painel de discussão do «Eixo do Mal» desta semana: o escândalo da evasão contributiva de passos coelho é de tal dimensão, que já dele não se livrará até às legislativas. Os próximos meses tenderão a servir para que ele vá assando em lume brando para ser convenientemente apresentado tostadinho no espeto na próxima noite eleitoral.
E pode-se dizer que o tema vai dando azo a textos de fina ironia, mas também com o seu quê de assassino, na imprensa nacional. Foi o caso do de Nuno Saraiva, do «Diário de Notícias», que me fez sorrir com este naco de prosa sobre o assunto: “Se fosse grego, e parafraseando a propaganda alemã citada há não muito tempo por um diligente e intrépido repórter da nossa praça, Passos Coelho seria um paralítico. Se fosse sueco já tinha caído do seu posto. Como é português, e apesar de já ter havido um primeiro-ministro demitido por se sentir um bebé numa incubadora a quem todos davam estaladas, vai continuar em funções. Porque Portugal é assim mesmo, como Pedro Passos Coelho, tolerante com os fortes e implacável com os fracos.”
2. Irrepreensível a reação de António Costa à escandalosa posição de cavaco silva sobre este mesmo caso: “Estamos em ano eleitoral, o Presidente da República não pode agir como comentador político. Tem de servir a República e não ser oposição às oposições.”
O inquilino de Belém fica avisado, mas a sua impenitente crapulice decerto continuará a manifestar-se nos próximos meses, sobretudo à medida que se for confirmando a inevitabilidade de acabar o mandato a assinar de cruz o que o novo governo socialista lhe mandar aprovar. Por isso mesmo justifica-se que António Costa aproveite os próximos meses para descolar nas sondagens em contraponto com a quebra abrupta que passos coelho e paulo portas merecem e já não encontre cavaco em condições de lhe contrariar o rumo, que queira imprimir.
3. E, no entanto, são muitos os obstáculos que o novo governo encontrará: as nomeações de gente do PSD e do CDS para os lugares de topo da administração pública prosseguem, fazendo com que os novos ministros e secretários de estado venham a deparar com o boicote concertado de gente agora para tal empossada. E não podemos esquecer o grupo secreto de juízes e procuradores, já denunciado por João Araújo e agora confirmado na sua existência por uma revista cor-de-rosa com comentários criminosos que dão um retrato sinistro de muitos dos nossos agentes de justiça.
4. Na Eslovénia está a decorrer uma discussão pública intensa porque diversas empresas públicas, que costumam apresentar lucros, deverão ser privatizadas por ordem das autoridades europeias. O ataque ao Estado Social passa por aí: privá-lo das receitas que poderiam facilitar-lhe a correção das injustiças e das desigualdades.
Um bom exemplo dessa torpe estratégia reside na notícia que dá conta dos 1040 mil de lucros obtidos pela EDP, que os vai entregar diretamente aos acionistas. Diz disso Manuel Carvalho da Silva: “Tomando como base comparativa os gastos do Estado em rubricas importantes no ano de 2015, conclui-se que é um montante equivalente a mais de metade da despesa da Segurança Social em subsídio de desemprego, a cinco vezes mais que o rendimento social de inserção ou, noutra ótica, a mais de um quarto do investimento público. (…) Segundo o jornal "i", desde 2010 até 2014 os gestores e acionistas da PT levaram para casa 3,5 mil milhões de euros. Nesse mesmo período as remunerações dos trabalhadores da empresa diminuíram 5,3%, a remuneração fixa e variável dos administradores aumentou 19%.”
Sem esquecer o quão cara é a energia elétrica, que temos de pagar todos os meses...
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