É um facto que este fim-de-semana não foi particularmente grato para os socialistas com os resultados desastrosos, quer na Madeira, quer nas eleições departamentais em França. Em ambos os casos a contracorrente dos obtidos pelo PSOE na Andaluzia no domingo transato.
Há, no entanto, razões para relativizar o sucedido num e noutro caso: na terra de alberto joão jardim seria natural que o antigo delfim surgisse como uma alternativa promissora para os que daquele recordam as obras fartas, geradoras de tanto emprego. Embora iludidos, é natural que tenham visto em miguel albuquerque uma espécie de dom sebastião regressado em manhã de nevoeiro e capaz de os devolver a esse mitificado passado. A desilusão estará já ao virar da esquina, quando a realidade de uma região falida, também ela a contas com uma dívida para cuja resolução não consegue recursos suficientes, se confirmar nas próximas semanas.
Quanto à situação francesa podemos sempre congratularmo-nos por a frente nacional de marine le pen não ter conquistado um único departamento. Embora ainda a subir, o foguetão da extrema-direita francesa parece sem combustível suficiente para estabilizar numa órbita sustentável.
É claro que os socialistas têm muito a aprender com as opções erradas com que se posicionaram nestas eleições. No caso do PS da Madeira não se conseguiu nenhuma vantagem na coligação com forças políticas sem expressão ideológica e até com o seu quê de folclórico. O projeto de «mudança» ficou-se pelo desejo de substituição dos políticos laranja sem propor nada de consistente capaz de mobilizar o eleitorado, por isso mesmo cativado pelos populistas do JPP. Quando faltam ideias credíveis, é fácil perder o apoio dos eleitores para os que fazem política a dizer mal dos políticos.
Esperemos que os socialistas madeirenses comecem já a trabalhar para os novos combates valendo-se de quanto importa assumir sem pudores a identidade própria. É que foi afinal pela frontalidade em se exporem com as suas siglas, que a CDU e o BE conseguiram evoluir muito positivamente junto do eleitorado.
Afirmar-se como socialistas, defendendo sem tibiezas os valores que os norteiam - desde a redistribuição da riqueza por via fiscal até à defesa do Estado Social - é o único caminho, que poderá levar o PS a alcançar a vitória num arquipélago, que tão desfavorável lhe tem sido.
E foi precisamente por se esquecer dos valores socialistas e estar apostado em pô-los na gaveta, que o PS de Hollande e de Valls conheceu tão significativa derrota. Não bastará a invocação dos valores republicanos para infletir uma decadência, que o pode pasokizar. Terá de retomar a defesa determinada dos valores, que têm sido desprezados pela atual direção.
Poderá valer-lhe a descredibilização de Sarkozy, que conseguiu o sucesso à conta dos deméritos alheios e não propriamente em função do carácter sedutor da alternativa, que representa.
Numa Europa onde as contradições estão a aproximar-se do ponto de rutura numa agudização do tipo da que Marx bem definiu como “luta de classes”, ser de esquerda ou de direita implica posicionar-se adequadamente no campo de batalha. Mesmo que ele adote agora a aparência de mercados de um lado e de quem lhes sofre os efeitos no outro...
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