Como não andei propriamente atento ao que os media andaram a transmitir - mesmo a entrevista com António Costa só a conseguirei ver hoje! - não sei se a data de 11 de março de 1975 foi recordada com algum destaque nos telejornais.
Para mim é inevitável recordá-la, porque significou a ameaça mais séria que a Revolução dos Cravos conheceu no ano seguinte ao ter acontecido. Depois de antecipar a possibilidade de vivermos a tal manhã clara de que falava o poema de Sophia, via perfilar-se o receio de regressarmos aos piores dos nossos pesadelos...
Por muito que a direita viesse depois a empolar o pretexto para que avançassem as nacionalizações dos principais setores da economia e as ocupações de terras para a reforma agrária, a tentativa de golpe visava o retrocesso ao 24 de abril.
Por isso mesmo, quando a vitória da esquerda militar se confirmou, fiquei deveras feliz. E quis crer que nada travaria doravante o curso de uma transformação política e social, capaz de fazer de Portugal o primeiro país verdadeiramente socialista na Europa, que os do leste europeu já nos haviam desencantado quanto baste.
Tinha dezanove anos e, ao contrário de Paul Nizan, acreditava que estava a viver os mais belos anos da minha biografia. Tanto mais que também inventava o Amor com carácter de urgência.
Semanas depois embarcaria no «Dondo» para iniciar a primeira fase do meu percurso profissional, enquanto Oficial Maquinista da Marinha Mercante. E já seria com a distância suscitada pelos horizontes só feitos de céu e mar, que veria murchar os cravos de abril...
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