Há pouco mais de dois anos o «Expresso» “descobriu” um consultor da ONU chamado Artur Batista da Silva, que criticava desassombradamente o programa de (des)ajustamento da troika, conseguindo notoriedade durante uns quantos dias até ser desmascarado.
Mas quase nenhum mal veio ao mundo com a sua vigarice, se excetuarmos o embaraço em que deixou um dos melhores jornalistas portugueses - Nicolau Santos. É que, no substancial, embora fosse falsa a credencial da ONU, o que ele defendeu em sucessivas entrevistas fazia, e continua a fazer, todo o sentido.
Mais problemática foi a projeção de outro homem carente de protagonismo, chamado alvaro santos pereira.
A primeira vez que dele ouvimos falar foi como obscuro professor universitário em Vancouver. Vivíamos então os anos de governação de José Sócrates em que a direita agarrava-se a todos e quaisquer argumentos para desqualificar as políticas então implementadas.
Foi ao pressentir o sucesso potencial, que álvaro se fez ascender a cabeça de cartaz dos críticos do governo socialista ao escrever umas banalidades copiadas dos manuais dos economistas neoliberais. Bastou-lhe acenar com a sua condição de professor universitário no estrangeiro, para que os pacóvios da direita se começassem a babar com tão distinta figura e lhe garantissem lugar de ministro no governo de passos coelho.
Que interessava o facto de nunca ter sequer gerido qualquer empresa e, portanto, não ter da economia mais do que algumas ideias teóricas, ainda por cima erradas?
A passagem pelo governo resumiu-se à apresentação da “luminosa” ideia da exportação dos pastéis de nata como solução para a crise do país, mas valeu-lhe algo pessoalmente mais compensador: uma adenda no currículo, que garantiu a contratação como técnico de uma das principais instituições internacionais.
Em vez de regressar ao anonimato do seu lugar de professor no Canadá, o álvaro conquistou um salário substancial e um “prestígio”, que em nada condiz com os seus desconhecidos méritos.
Outro tipo de vigarice deste tipo, mas ainda mais gravosa para os portugueses foi a do finado antónio borges.
Durante anos ele fez render a curta passagem pela Goldman Sachs, onde fora vice-presidente.
Ora vice-presidente não significa número 2 do célebre banco. A Goldman tem centenas de vice-presidentes, que é o nível acima do Associate, a categoria mais comum entre os seus colaboradores. Corresponde a um mero chefe de departamento para o qual é preciso apresentar resultados. O que, como com ele não aconteceu, só valeu ao borges aquecer o lugar em Londres durante um par de anos.
Apesar de saberem isto os nossos joségomesferreiras incensaram o economista, que também quase passaria de raspão pelo FMI no tempo de Strauss-Kahn.
Mas se o borges foi dado como incompetente naquelas duas importantes instituições bancárias, sempre foi projetado entre nós como uma luminária face à qual os seus bajuladores se curvavam com entusiasmo.
Se a situação da economia portuguesa se degradou aos níveis a que, hoje, se encontra, muito se deve a borges, que andou a receber 25 mil euros mensais deste governo para o aconselhar a cortar pensões e salários e a privatizar tudo quanto fosse possível.
A morte impediu-o de ver o «resultado» desastroso de tudo quanto aconselhou a passos, mas não se duvide que ele ficaria muito orgulhoso com a catástrofe social causada a milhares de portugueses pelos seus dispendiosos “conselhos”.
Vimos, pois, três casos de vigarice, desde o mais inócuo ao mais gravoso. Falta agora abordar um novo exemplo que tem suscitado bastante polémica nas semanas mais recentes: o da autointitulada vice-reitora da Sorbonne, Isabelle Oliveira, que andou a passear-se pelas páginas do «Expresso» como se fosse a nova estrela ascendente da comunidade portuguesa em França.
Julgaríamos que, depois do caso Batista da Silva, o jornal de Balsemão tivesse maior cuidado a confirmar as suas fontes. Afinal não!
Numa investigação, que não precisou de ser muito aprofundada, a jornalista da «Visão», Ana Navarro Pedro confirmou que Isabelle Oliveira não frequentou a Universidade de Coimbra conforme tinha referido na entrevista, não é vice-reitora de nenhuma Sorbonne, e nem sequer é catedrática.
Ademais, conhecendo-se-lhe a proximidade com josé cesário, o secretário de Estado deste governo, foi com genuíno espanto que se viu a mesma Isabelle Oliveira a ser entrevistada no «Ação Socialista», como se se tratasse de admiradora confessa das propostas de António Costa.
Face a todos estes dados, entretanto conhecidos, podemo-nos questionar o que pretende este recente paradigma do arrivista: ter direito ao quarto de hora de fama como Batista da Silva? Conseguir ascender a compensadora posição académica ou política, para a qual nunca mostrou mérito que o justificasse, como sucedeu com álvaro santos pereira? Ou, pior do que qualquer dessas hipóteses: é que, mostrando-se tão convincente a explorar a credulidade de quem a ouve, pode convencer os incautos a designá-la para funções, seja em França, seja em Portugal, onde a sua capacidade de causar danos pode ser tão destruidora quanto a do borges de má memória!
Imaginemos que, em França, ela consegue chegar a cargo onde possa destruir todo o trabalho, que centenas de professores de português conseguiram nas últimas décadas e que ela dá mostras de desconhecer ou de desvalorizar? Ou, imaginemos que, em Portugal, conseguia o mesmo efeito de pacovice criado nos aduladores do professor de Vancouver e vinha decidir sobre áreas de competência, que não são seguramente as suas?
Importa, pois, estar atento às jogadas imediatas desta Isabelle de forma a que a enorme “lata” com que se vende enquanto produto, não nos obrigue a experimentar-lhe a evidente falta de qualidades.
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