Não tenho nenhuma simpatia pelo filósofo francês Alain Finkielkraut, cuja pertença a grupos maoístas nos anos 70, resultou num alinhamento posterior à direita a exemplo de uns quantos portugueses, igualmente conhecidos por tal percurso. A diferença é que se é impossível ouvir um durão barroso, um josé manuel fernandes, uma helena matos ou um josé carlos espada sem sentir um certo asco pela evidência de se conseguir dar uma volta de 180º nas ideias proferidas mantendo a mesma postura convencida, Finkielkraut consegue manter um discurso inteligente … e pertinente.
Sobre o relativo sucesso da Frente Nacional de marine le pen neste fim-de-semana - capaz de seduzir 25% do eleitorado! - ele recomenda que não se a combata mediante o recurso ao velho discurso antifascista. É que as circunstâncias de hoje são muito diferentes das de há vinte ou trinta anos, quando era o truculento pai le pen quem assumia as despesas do discurso xenófobo agora tingido de cores mais suavizadas.
Os franceses veem-se numa sociedade muito diferente da de então e têm medo. Porque a deslocalização de empresas fez aumentar o desemprego de forma avassaladora e a antiga sociedade maioritariamente branca coloriu-se de outros tons e cores.
O que constatam esses eleitores? Que um dos valores fundamentais da República, o primado da laicidade, foi abandonado pelos maiores partidos da esquerda e da direita, que temeram ver-se associados a posições islamofóbicas. Ora, ser laico não pode ser interpretado como tendo preconceitos contra as religiões, apenas se lhes exigindo que sejam praticadas nos espaços de culto adequados e não extravasem para o resto da sociedade sob pretextos de lhe ser exigida o que quer que seja.
Nesse sentido ser firmemente laico deve implicar que não faz sentido que a escola pública aceite crianças adornadas ou vestidas de símbolos religiosos, mesmo que almas piedosas se queixem dos riscos de algumas delas ficarem assim condenadas à iliteracia dentro de casa.
Mas ser laico também significa que se devem restringir quer as exigências dos muçulmanos, quer as dos fanáticos católicos, que voltam a querer impor a sua preconceituosa argumentação sobre o «direito à vida» em nome das suas porfiadas tentativas para fazer recuar décadas nas leis sobre o aborto.
O que Finkielkraut propõe às forças republicanas, de esquerda ou de direita, é que não permitam a marine le pen dar a ideia de ser a única a defender a laicidade enquanto valor fundamental da sociedade dos nossos dias. Foi à conta de muitos conceitos duvidosos, tidos como «politicamente corretos«, que a esquerda se deixou contaminar por valores esdrúxulos e perdeu de alguma forma o pé ao que é a sua identidade.
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