1. Fiquei satisfeito com a sondagem desta semana publicada no «Expresso»?
É claro que não! Em vez dos 4,8% de vantagem sobre a coligação PSD/CDS sentir-me-ia bem mais descansado se a diferença atingisse o triplo e consolidasse o PS acima dos 45%. Presumiria, então, que a maioria absoluta, mais do que o desejo de um militante, seria uma probabilidade bastante forte.
Mas, por uma vez, o Paulo Baldaia disse algo com que concordo: nesta altura, a seis meses das eleições, esta previsão é a que melhor serve o Partido Socialista!
Porquê? Muito simples. Nada mais tipicamente português do que descansar sobre louros antecipados. Julgassem os militantes socialistas, que as semanas até ao dia de ir às urnas seriam um mero passeio e descansariam sobre essa convicção.
A incerteza tem o mérito de lhes estimular a militância disponibilizando-os para o esforço que se lhes exige nestas semanas: muitos jantares de vitela assada, muito comício, muita atividade nas redes sociais, etc.
Tanto mais que, depois do anúncio do programa em 6 de junho, o ritmo intensificar-se-á para convencer os indecisos a apostarem na alternativa mais consequente. Nesta altura o problema não reside em quantos se afirmam dispostos a votar na continuidade do atual governo, mas nos 20,3% que ainda se situam na lógica do «não sabe/ não responde». Porque bastará que metade deles vote no PS para tudo se tornar bastante mais fácil.
Onde a sondagem verdadeiramente me agrada é no tombo de cavaco silva. Bem pode o filho do gasolineiro de Boliqueime aprender a comer bolo-rei ou a só aproximar os lábios das mãos que protocolarmente tem de beijocar, que já nada o livrará de concluir o mandato como o presidente mais impopular da História da Democracia. O que lá bem no fundo deverá angustiar o medíocre oportunista, que nunca deixou de ser!
2. Hoje passei momentaneamente pela RTP e dei de caras com sandra felgueiras a fazer mais uma reportagem em que o visado era José Sócrates.
Não lhe dei tempo para comprovar se tinha ou não razão, mas desconfiei que esse trabalho estava ao nível dos que podem ser encontrados no pasquim da Cofina para converter num monstro o melhor primeiro-ministro do pós-25 de abril.
Por isso não percebo lá muito bem o que leva muitos a desconfiarem das mudanças agora operadas na liderança dos vários canais da RTP e da RDP.
Não é que os nomeados sejam particularmente respeitáveis, mas atualmente no reino do orelhas, que se toma pelo Dan Brown da marechal gomes da costa, dificilmente seria possível encontrar pior jornalismo. E Nuno Artur Silva ainda merece algum capital de confiança!
3. Não li a recente crónica de césar das neves em defesa da família tradicional. Nunca tenho paciência para a prosa troglodita de tal beato de sacristia. Mas a reação de Fernanda Câncio, que li com atenção, vem ao encontro do que se está a passar um pouco por toda a Europa: o recuo nas conquistas há muito obtidas pelas mulheres, nomeadamente no que diz respeito à legitimidade para tomarem as decisões a respeito do próprio corpo.
Mais do que pitorescos na sua forma peculiar de olharem à sua volta, os césares das neves são tóxicos extremamente perigosos. E merecem barrela vigorosa para que não voltem a causar mais danos do que os que, em tantas décadas a fio, tão imenso sofrimento causaram.
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