O meu vizinho do segundo andar, o sr. Manuel, já me bateu à porta, a procurar solidariedade para a sua justificada indignação quanto ao valor do IMI, que acabara de ver explicitado na carta das Finanças recebida na caixa de correio. Ele que, octogenário, tem direito a uma pensão de reforma ridícula, vê-se a contas com um compromisso para o qual só com enorme sacrifício conseguirá cumprir.
Eu, que ainda não recebi a assustadora carta, também temo pelo que ela me exigirá. Porque estamos perante um esbulho fiscal, que afeta muitos milhares de portugueses cujas dificuldades não têm sossego com este governo liderado por quem possui um histórico tão comprometedor quanto à forma como cuidou em tempos deste tipo de assuntos.
Foi por isso acutilante a intervenção do PS que, segundo o «Acção Socialista», se prontificou a prometer “a reposição da cláusula de salvaguarda do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) que limita até 75 euros o aumento anual desta contribuição, impedindo assim aumentos insuportáveis e inesperados, que nalguns casos podem chegar aos 500%.”
Muito embora não mitigue o esforço a que os contribuintes irão agora ser obrigados, constitui um sinal esclarecedor quanto será diferente a política do próximo governo em comparação com o que ainda somos obrigados a suportar.
Ao mesmo tempo, a OCDE publicou um relatório, que vem confirmar o expectável: como consequência dos 350 mil empregos destruídos entre 2011 e 2013, altura em que também decresceu em 30% o investimento , a economia portuguesa está a desacelerar na sua momentânea recuperação, quando em toda a zona euro está a acontecer o contrário.
O violento empobrecimento do país e a demonstração da falência da receita ideológica, que o fundamentou, dá-me confiança para tirar razão aos comentadores apostados em negar a possibilidade de uma maioria absoluta ao PS.
Pelo contrário, a previsível passagem da pasta de Presidente da Câmara de Lisboa a Fernando Medina, irá libertar António Costa para os meses cruciais em que se afirmará a solidez da alternativa, que personifica.
E, numa altura em que cavaco se atreve a sugerir o perfil do seu sucessor, não dou de barato a possibilidade de, caso Guterres não avance, a esquerda esteja condenada a perder as eleições presidenciais.
Pelo contrário, a crise que assolará a direita depois de derrotada nas legislativas, conduzirá o candidato apoiado pelo Partido Socialista à vitória. Será essa a explicação para o facto de António Costa não parecer preocupado com a questão. Por muito que, como é o caso de Pedro Santos Guerreiro, hoje no «Expresso», isso pareça muito estranho...
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