Dois meses e meio depois o cenário mantém-se: ramos de flores sempre a renovarem-se inúmeros lápis, velas, desenhos…
Quer na Bolsa, no 11º bairro, à volta da antiga sede do jornal na Rua Nicolas Appert ou na Câmara Municipal, a homenagem às vitimas do atentado no Charlie Hebdo continua sem que o luto pareça terminar. Até porque o mais recente atentado em Copenhaga encarregou-se de reabrir cicatrizes, que estavam a sarar. É que, com o drama, muitos compreenderam que o Charlie Hebdo encarna a liberdade de expressão. E quando um valor dessa dimensão é violentado, a dor torna-se ainda mais insuportável.
Não muito longe dali, os sobreviventes do semanário satírico tentam regressar à normalidade. No 8º andar da sede do «Libération», a equipa vai preparando as próximas edições. Para Zineb El Rhazoui, que está no jornal desde 2011, trabalhar é agora um forma de catarse. E o chefe de redação Gérard Biard constata que, mais do que nunca, a equipa sente a necessidade de se interligar mais intensamente do que alguma vez acontecera.
Se as dificuldades financeiras pertencem ao passado, a redação confronta-se com novos desafios. Porque sente que, um pouco por todo o mundo, todos estão atentos ao seu trabalho. Nomeadamente para apoiar ou criticar até onde podem ir as críticas às religiões. Que ameaçadas por uma sociedade cada vez mais ateia, reagem violentamente ao que considerem blasfematório.
A tiragem da edição imediatamente a seguir ao drama foi de 7 milhões de exemplares e o Charlie conta agora com 200 mil assinantes. Para uma publicação satírica, que só conseguia tiragens da ordem dos 60 mil exemplares antes do atentado e que, então contava com 10 mil assinantes, a nova realidade quase se torna assustadora.
Para Zineb El Rhazoui só há um caminho possível: arriscar. Porque nunca o Charlie Hebdo poderá ceder à ameaça do terror. Até pelo dever de continuar a respeitar os que por ele morreram!
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