Ontem de manhã cometi uma gafe quase imperdoável: apesar das inundações da véspera e do céu muito nublado, arrisquei sair para a rua com um pólo de manga curta, que costuma dar-me conforto. O pior aconteceria depois, quando a minha cara metade apontou para a pequena inscrição ao nível do peito: «Porto Seguro»
- Já viste o que andas aí a anunciar?
Confesso que fiquei comprometido, porque nunca associaria aquela peça de vestuário, comprada no município baiano, com qualquer mensagem política, e muito menos a um candidato que execro.
Em desespero de causa ainda imaginei afixar ao lado daquela inscrição uma folha A4 contendo em letras garrafais: «MAS EU APOIO ANTÓNIO COSTA!», mas desisti. Há erros para os quais é aconselhável viver com eles do que enfatizá-los com a sua inábil correção.
O episódio pessoal seria esquecido como questão de pormenor num dia alimentado por vivências bem mais relevantes, se não assistisse esta noite ao terceiro debate entre António Costa e António José Seguro, que nem os mais empedernidos apoiantes do segundo nos comentários televisivos puderam escamotear ter-se saldado por uma humilhante derrota.
Miguel Pinheiro, que aos comandos da revista «Sábado» sempre deu provas ao dono da Cofina de ser fiável antissocialista, exprimiu lapidarmente o resultado, quando a propósito do inaudito ataque aos fundadores do Partido, disse ter Seguro cometido um suicídio político em direto.
E, de facto, qual será o estado de alma dos que ainda apoiam Seguro, quando forem votar no próximo domingo? Irão cientes de estarem a contribuir para uma causa perdida ou sentirão a dúvida instalar-se quanto às convicções, que foram alimentando durante estes quatro longos meses? Se instados a assumirem o apoio a Seguro afixando-o nas suas camisolas, teriam suficiente coragem para assim se exporem à vergonha de alinharem com quem demonstrou uma tal quantidade de razões para nunca merecer ter sido ou vir a ser secretário-geral do Partido Socialista?
Na entrevista concedida à repórter da RTP Informação à saída dos estúdios onde ocorrera o debate, António Costa manifestou alguma surpresa pelo tipo de personalidade, que Seguro revelou ao longo de toda esta campanha. E eu não posso estar mais de acordo: sempre que se pusera a possibilidade de votar para secretário-geral nos últimos três anos, decidi ora votar no candidato alternativo a Seguro (na altura foi Francisco Assis), ora alhear-me de tal eleição (como sucedeu para o mais recente Congresso!). Mas alguma vez imaginaria que António José Seguro mostraria tanta falta de escrúpulos, que nunca tivesse abdicado das calúnias e dos mais abjetos argumentos populistas para conseguir manter o poder, que julgara conquistado?
No debate António Costa comentou que, enquanto sempre se comportara em todo o seu percurso político, como avançando para o que o Partido lhe solicitara (e entre esses desafios poder-se-iam contar as difíceis eleições para autarca em Loures ou em Lisboa quando se tratou da eleição para o seu primeiro mandato enquanto presidente da câmara), nunca Seguro se arriscara em empresas semelhantes, apenas parecendo obcecado pela ambição pessoal de vir a ser primeiro-ministro.
A verdade é que ser ou não ser primeiro-ministro não é uma questão de egos, mas de qualidades e capacidades. Costa comprovou-o e por isso merecerá uma grande vitória no dia 28. Quanto a Seguro só posso dizer que vejo uma boa razão para a chegada do outono: pelo menos durante uns largos meses o pólo com a inscrição de Porto Seguro ficará arrumado num armário sem me sujeitar a mais tristes figuras. Porque, para o próximo verão, quando o voltar a envergar, já ninguém o associará a um político medíocre que, durante algum tempo, andou a fazer de líder da Oposição...
Sem comentários:
Enviar um comentário