É um drama vivido no silêncio dos campos franceses e o derradeiro tabu camponês: anualmente dez mil animais são arrestados pela justiça, em grande parte vacas leiteiras. Esses animais são retirados a pequenos agricultores que baixaram definitivamente os braços e acabam quase sempre por serem condenados por «abandono de gado».
O que significa essa sórdida tendência? Quem luta contra tais abandonos e com que meios? Será que a exploração leiteira ainda tem algum futuro em França ou nos demais países europeus?
A verdade é que deixar morrer os animais a que se consagrou toda a vida é um fenómeno revelador do mal estar vivido entre os criadores de gado.
Desde que se viveu a crise o do leite de 2009, desaparecem dez mil explorações por ano. O modelo familiar da criação de gado parece ter conhecido o seu fim. Noutros países europeus, as soluções alternativas vão mostrando algum sucesso: a Alemanha transformou-se no primeiro produtor de leite da União Europeia, mas o segredo foi o da utilização massiva das «quintas fábricas» quase totalmente automatizadas.
Nelas as vacas leiteiras vivem cerca de oito anos, sem jamais saírem dos pequenos espaços onde estão confinadas e nunca conhecerão um prado verdadeiramente digno desse nome.
Estas estruturas gigantescas são capazes de acolher milhares de vacas ao mesmo tempo, todas a defecarem para metanizadores, que transformam o estrume em biomassa. A venda dessa energia torna rentáveis as explorações leiteiras.
Em França também há quem aposte na imitação desses modelos, mas enfrenta forte oposição. Laurent Pinatel, porta-voz da Confederação Camponesa e adversário determinado das quintas com mais de mil vacas afirma que, nelas, o leite tende a ser um subproduto da «merda».
No fundo o que está em causa é o debate sobre o futuro da sociedade e até que ponto terá nela cabimento o modelo tradicional da agricultura. Algo que os portugueses não podem ignorar, porque também lhes diz respeito!
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