Na deriva populista, que lhe conhecemos nos últimos meses, António José Seguro empreendeu uma campanha demagógica em prol da necessidade de uma maior aproximação dos eleitores com os seus eleitos. Por isso apostou na inqualificável decisão autocrática de propor à Assembleia da República a redução do número de deputados - que facilitará a nomeação dos que provierem do PSD e do PS e reduzirá a eleição dos propostos pelos pequenos partidos e dos que seriam oriundos do tal interior abandonado por ele tão mimoseado! - e a imposição de um tipo de exclusividade destinada a não facilitar a mistura da política com os negócios.
Foi preciso o Partido Socialista chegar a mais de quatro décadas de existência para contar com um efémero líder mais apostado em apelar aos preconceitos mais primários dos eleitores do que à sua inteligência.
Ora, se por desespero não optasse por tão serôdia estratégia, António José Seguro teria tido fartos exemplos durante esta semana das razões porque os portugueses estão distanciados da política. Concluiria assim que isso acontece, porque tem políticos que:
· são capazes de pedir desculpa pelo caos que semeiam nos setores que tutelam e não retiram as devidas consequências das responsabilidades políticas que lhes cabem. Que só poderiam ser a demissão. Comentava Fernando Madrinha no “Expresso” que ”por muito menos, tanto no caso da Educação como no da Justiça, há quem o faça em países que gostamos de tomar como modelos.” E, no mesmo semanário, acrescentava Pedro Adão e Silva que “por mais sofreguidão legislativa sobre pedofilia que revele, teixeira da cruz não será capaz de disfarçar a sua incompetência para governar a justiça em Portugal”;
· alegarão prescrição das suas ilegalidades para fazerem como se elas nunca tivessem existido. Tem isto a ver com a denúncia da verba atribuída mensalmente a passos coelho quando ele era deputado com exclusividade de funções entre 1997 e 1999 e que não consta na declaração para o fisco nem para o Tribunal Constitucional, e sobretudo nunca poderia ser-lhe remunerada face ao estatuto em que se colocara. Por muito que criminalmente possa ser ilibado de qualquer dessas ilegalidades, moralmente passos coelho fica sem legitimidade para merecer as funções que exerce.
· endividaram obscenamente a sua autarquia à conta de contratos ruinosos - vide o processo em averiguações a luís filipe de meneses a respeito do lixo renegociado com uma das empresas do grupo Mota Engil - com fortes suspeitas de terem assim angariado verbas para andarem a oferecer patuscadas nas posteriores campanhas eleitorais;
· tentam disfarçar o indisfarçável ou seja ilibarem-se das efetivas responsabilidades, que têm relativamente à forma como está a ser “resolvido” o caso BES, apenas motivados por cálculos eleitoralistas, como são enunciados por Pedro Santos Guerreiro ainda no mesmo semanário. “Este caso foi desde o início político, que está feito para não contaminar as eleições e que vai ter custos maiores do que disseram ao princípio. O modelo de resolução face ao da capitalização há de ser cada vez mais criticado. Porque o resultado desta experiência está a ser o de uma destruição”.
Já contasse o Partido Socialista com uma Direção verdadeiramente à altura da sua História e teríamos a firme exigência da demissão de nuno crato e de paula teixeira da cruz, do pedido de explicações a passos coelho quanto à forma como está a gerir a falência do grupo Espírito Santo e da exigência de célere esclarecimento sobre o que agora se soube a respeito da Tecnoforma e dos contratos de lixo em Vila Nova de Gaia.
Com tal firmeza o Partido Socialista estaria a firmar-se junto dos portugueses como aquele que exige uma conduta irrepreensível dos seus políticos, assegurando-se que a culpa não volte a poder morrer solteira. Ademais poria à prova a própria Justiça dos tribunais, assegurando-se que, não sendo cega, ela não se revele propriamente zarolha como andou a parecer nas semanas mais recentes.
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