Os últimos dias voltaram a ser férteis relativamente à dualidade de critérios da imprensa escrita e televisiva para tratar de notícias relacionadas com José Sócrates e o atual governo.
O primeiro exemplo aconteceu nas televisões, que foram lestas a comparar os pedidos de desculpas de crato e de teixeira da cruz com os de José Sócrates, quando fumara um cigarro num voo para a Venezuela ou de Manuel Pinho quando mimou cornos para a bancada do PCP.
No «Expresso» Daniel Oliveira é esclarecedor quanto às razões porque pôr os casos dos primeiros ao nível dos protagonizados pelos segundos não faz qualquer sentido: “É uma comparação absurda. Os erros dos dois [Sócrates e Pinho] foram pessoais e sem qualquer conteúdo político ou técnico. E perante erros pessoais, sem qualquer ligação com as suas funções políticas que não seja a obrigação de cumprir as regras legais e de civilidade em vigor para todos os cidadãos, é natural e recomendável um pedido de desculpas público.
Perante erros técnicos e políticos, faz-se uma de duas coisas: ou eles não são graves e corrigem-se rapidamente, vivendo com os efeitos políticos da falha, ou eles são graves, os detentores de cargos públicos assumem essa gravidade e demitem-se..”´
É claro que perante a confissão de um dos secretários de estado de crato em como continua sem saber como corrigir o erro dos professores incorretamente afastados das colocações da semana transata ou com a continuação da paralisação da Justiça, não faz sentido que passos coelho fuja à obrigação de substituir quem revelou tanta incompetência.
O segundo exemplo tem a ver com o desmentido da notícia da revista «Sábado» a respeito do vínculo de exclusividade de passos coelho na Assembleia da República enquanto recebia verbas da Tecnoforma.
Já estranháramos que uma mentira a respeito de José Sócrates, prontamente desmentida no mesmo dia, tivesse merecido foto de capa da «Sábado» ainda há escassas semanas, enquanto este caso com passos coelho não ia além da dimensão de uma pequena caixa na revista desta semana.
Mas o pronto desmentido da notícia deve merecer uma interpretação do sucedido com o antigo primeiro-ministro: enquanto com este o grupo Cofina continua, por intermédio dos seus jornais e revistas, a manter uma permanente campanha de desgaste destinada a dificultar-lhe um regresso efetivo à política, com passos coelho a ideia será a de vitimizá-lo numa lógica de ele ser tão “honesto, tão honesto”, que não o conseguem apanhar numa ilegalidade.
Aonde parece existir alguma semelhança de estratégia, poderemos estar perante objetivos completamente contrários. Que de passagem até poderá pôr os mais ingénuos a duvidar se luís filipe meneses terá cometido os crimes por que está a ser investigado pelo Ministério Público.
Demonstra-se, pois, que a grande máquina de propaganda responsável pela campanha organizada desde o início do milénio para decapitar as direções socialistas - à exceção da de António José Seguro, que por ser tão inoperante, é tão acarinhado por ela! - continua em marcha.
António Costa bem o está a sentir nas últimas semanas sendo fácil detetar nas redes sociais os perfis fantasmas, que se multiplicam em calúnias, insultos e mentiras, e oriundas das agências de comunicação responsáveis por tal campanha.
E nem as maiores evidências de incompetências e de negócios obscuros em torno das privatizações conseguem sobrepor-se à sucessão de elogios delas imanados à ação governativa como se, qual Pangloss, estivéssemos a viver no melhor dos mundos possíveis...
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