domingo, 7 de setembro de 2014

Corrupções, amizades e derrotas anunciadas

1. Ontem, de manhã, encontrei-me à saída de casa com um vizinho comunista. Após os cumprimentos do costume, ele mostrou-se radiante com os resultados da condenação dos arguidos no processo «Face Oculta». Parecia que, por uma vez, David tinha vencido Golias!
Não foi, porém, difícil relativizar-lhe o contentamento, quando comparando os milhares de euros envolvidos no caso do negócio das sucatas, lhe ripostei com os auferidos impunemente por Jardim Gonçalves, Dias Loureiro, Ricardo Salgado e por todos quantos à conta dos seus negócios da banca embolsaram milhões, que estão a ser pagos pelos contribuintes sob a forma de impostos e de cortes nas pensões ou nos investimentos na educação ou na saúde. Para já não falar do exemplo de Eduardo Catroga que cobra legalmente na EDP alguns milhões de euros à conta da sua participação ativa na lógica privatizadora do governo de passos coelho e de paulo portas.
É o que continua a ser lamentável numa certa forma de abordagem da realidade pelos comunistas: olham para a árvore, mas esquecem-se de levar em conta a floresta.
2. Mas quanto ao julgamento de Aveiro ainda há muito a dizer sobre o sucedido com as escutas telefónicas entre José Sócrates e Armando Vara: o coletivo de juízes, que anda a ser incensado por alguns pela mão pesada com que penaliza os crimes de colarinho branco, não deixa de ser aquele que cometeu voluntariamente um crime ao desrespeitar a ordem do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça para a destruição desses registos e as manteve em lume brando de forma a possibilitar a continuação da campanha dos «pistoleiros do costume» no anseio nunca refreado de  enlamear a estatura moral do antigo primeiro-ministro.
A expressão entre aspas foi a por ele utilizada no seu regresso ao programa de comentários semanais na RTP e no qual pode denunciar, uma vez mais, essa campanha insidiosa dos pasquins do patrão da Cofina ou do angolano Álvaro Sobrinho, a mando de interesses muito mais vastos ainda por clarificar.
Mas  tal campanha prosseguiu na própria RTP que, em manifesto desrespeito pelo seu comentador, agendou, igualmente para ontem, uma peça «jornalística» sobre a figura do ex-agente da Judiciária responsável pela recolha das escutas e  em que continua a afiançar aquilo que o próprio coletivo de juízes de Aveiro nega: que elas tivessem o que quer que fosse de comprometedor para com o foco do seu evidente ódio de estimação. Esse ex-polícia é a face visível da campanha denunciada por Sócrates continuando a prestar-se ao papel de assassino a soldo, que dispara e se presta a continuar a disparar em função da sua enviesada noção da realidade.
3. Da Opinião de José Sócrates ainda dois apontamentos adicionais, que importa sublinhar: confirmando aquilo que já dele se sabia - o valor inestimável do conceito de amizade -  não quis deixar de enviar uma mensagem pessoal de apreço por Armando Vara e Paulo Penedos.
Políticos mais calculistas e menos confiantes em si mesmos, calariam essa tomada de posição ou apressar-se-iam a colar-se ao coro dos justiceiros. Pelo contrário, Sócrates age de acordo com a sua consciência, confiando na inocência de ambos e na forte probabilidade de lhes vir a ser feita justiça.
Quanto às Primárias do Partido Socialista ele reitera aquilo que só os seguristas não querem ver, mas já é compreendido pela maioria dos portugueses ouvidos na sondagem da Aximage: que a Direita teme seriamente a possibilidade de António Costa vir a liderar a Oposição no período em falta para as eleições legislativas. E por isso não tem hesitado em denegri-lo ou menoriza-lo. Sem sucesso, tanto quanto se consegue perceber dos sucessivos indicadores e notícias, que vão surgindo no dia-a-dia. Nomeadamente quanto à indisfarçável derrota de Seguro nas eleições internas deste fim-de-semana.
4. Procurei evitar qualquer comentário sobre a entrevista de António José Seguro a Fátima Campos Ferreira, mas a revisão de alguns dos seus momentos mais eloquentes pelo «Inferno» do canal Q permite concluir que se o ridículo matasse só António Costa chegaria vivo a 28 de setembro.  Porque nem o ainda secretário-geral do PS, nem ninguém da sua corte, consegue discernir que aquele tipo de «boneco para iludir palecos» já não cola. E só confrange quem é obrigado a reconhecer que, ainda por mais algumas semanas, tem-se naquele cadáver adiado o suposto máximo representante do principal partido de oposição!

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