Confesso culpas no cartório: o meu pragmatismo não chega ao ponto de gastar tempo e dinheiro com o semanário do arquiteto saraiva. Em definitivo considero uma inaceitável balela aquela ideia propalada por certos espíritos politicamente corretos em como temos de ler o que todos dizem para consubstanciar uma opinião mais fundamentada sobre aquilo que quereremos opinar. Até porque se algo há a merecer atenção nalguns dos pasquins da nossa praça surge sempre um amigo bloguista ou do facebook a filtrar o que ali terá sido publicado. Foi o que sucedeu com a entrevista dada por João Proença, ex-líder da UGT, na qualidade de coordenador da campanha de António José Seguro, e que Miguel Abrantes, da «Câmara Corporativa» nos deu a conhecer os aspetos mais importantes.
Sinteticamente, pudemos confirmar por tão douta “autoridade do mundo sindical” o muito que já déramos como certo na assustadora personalidade do ainda secretário-geral do PS e de muitos dos que integram a sua corte. Porque:
· o mesmo Seguro que tanto associa o descrédito da classe política à confusão entre política e negócios, escolheu precisamente como organizador da sua campanha aquele que, tão só saído da UGT, logo foi nomeado por passos coelho para a cúpula da AICEP, o organismo estatal cujo objetivo é precisamente … promover negócios;
· é o entrevistado do «Sol» quem corrobora a constatação em como “não tendo estado ligado ao governo de Sócrates”, Seguro passou, de facto, seis longos anos a vegetar na sexta fila do Parlamento;
· numa negação de uma realidade que não escapa à maioria dos simpatizantes e militantes socialistas, os seguristas querem esquecer a «abstenção violenta» ao Orçamento de 2012, que ia muito além do negociado no memorando da troika;
· também procuram ignorar a abstenção imposta pela direção parlamentar à inacreditável revisão do Código do Trabalho, que reduziu os direitos e garantias de quem trabalha a uma mera caricatura e fora vergonhosamente subscrita pela UGT;
· mentindo sem escrúpulo, Proença assegura um corte de 49 deputados sem reduzir a representação da província e ao mesmo tempo observar o sistema proporcional;
· reconhecendo a forte probabilidade de assistir a uma derrota no dia 28, Proença explica as posições populistas das últimas semanas como “uma reação de quem se sente numa situação de dificuldade”.
Mas a entrevista ainda tem mais que se lhe diga, porquanto João Proença usa a argumentação da direita para propor o fim do espaço de opinião de José Sócrates na RTP e não refere uma vez que seja um conjunto de questões, que deveriam merecer a prioridade de qualquer socialista na denúncia do estado de coisas, que urge infletir: os desempregados sem apoios sociais, a precariedade no emprego, a degradação do acesso à Saúde, o caos na Justiça e na colocação de professores, etc.
A grande preocupação de Proença, e por certo de muitos que rodeiam António José Seguro, é o que lhes sucederá depois do dia 28 e por isso ele é explicito num desejo: “espera que o vencedor das primárias, seja qual for, dê lugares no partido a quem ficar na oposição interna”.
Durante esta semana irá haver muita gente a ter sérias insónias sobre o futuro que os espera, quando se anunciarem os resultados destas Primárias. É que se a grande maioria dos apoiantes de António Costa têm outra vida para além da política, não é o caso dos da candidatura contrária onde impera quem julgou chegado o momento de ver premiados anos de assumido arrivismo e lhe surge sempre o pesadelo de uma mão vazia e outra sem coisa nenhuma!
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