1. Curiosamente, no mesmo dia em que o Grupo Mello anunciou com pompa e circunstância a OPA à Espírito Santo Saúde, compareci numa das suas clínicas e de lá saí depois de formalizada uma reclamação no respetivo Livro. E, obviamente, sem a prevista e de há muito marcada consulta!
Razão para tal? O ministro miguel macedo tem prosseguido com a estratégia de esvaziamento do SNS de forma a obrigar um número cada vez maior de cidadãos a recorrerem à medicina privada, enriquecendo quem fez da saúde uma forma de negócio.
Seria natural que essa alternativa privada tivesse uma qualidade significativamente maior do que a dos centros de saúde ou dos hospitais públicos.
Convenhamos que assim não é: o desrespeito pelo utente é o mesmo, se não pior, porquanto marca-se consulta para uma hora e, aleatoriamente, ela é atrasada tornando-o num mero peão da vontade discricionário do médico.
Se somos empurrados para pagarmos a saúde a que gratuitamente deveríamos ter direito, é altura de reclamar sempre que o desrespeito pela qualidade do serviço fornecido ultrapassa os limites do aceitável…
2. Costuma-se dizer que Vasco não é Pulido nem Valente. A quase totalidade das suas crónicas são imprestáveis, exceto quando chama à colação a história portuguesa do século XIX, que estudou aprofundadamente e de que é conhecedor como poucos.
Porém, quando analisa o comportamento de António José Seguro nos debates televisivos, e sem prejuízo dos disparates, que logo acrescenta ao artigo, não há como não lhe dar razão:
“O jovem José Seguro tem um génio quase miraculoso para fazer asneiras sem remédio. Explicar, por exemplo, num debate de televisão que se demitiria se tivesse de aumentar impostos não passava pela cabeça de ninguém, excepto talvez pela cabeça de uma criança de oito anos, um pouco atrasada.
Promover este extraordinário indivíduo a secretário-geral do PS ou a primeiro-ministro seria uma rematada loucura e poria rapidamente Portugal inteiro numa crise de nervos. As coisas que ele pode dizer, capazes de meter o país num indescritível sarilho, achando que está a exibir a sua grande virtude ou beneficiar o PS e a Pátria. Não tem equilíbrio, nem prudência, nem sensatez. Como, de resto, provou à primeira oportunidade quando Costa o desafiou. Viu tudo mal e decidiu pior: para ele e para o partido.”
3. Um artigo do professor João Caraça sobre o caso BES vem-me encontrar embrenhado na leitura do mais recente romance de Lídia Jorge, onde esta põe o antigo embaixador norte-americano Frank Carlucci a recriar as memórias dos nossos anos de brasa com a colaboração de uma jornalista portuguesa.
Ainda não cheguei à altura em que a hipótese de Caraça se possa confirmar, mas não deixa de ser pertinente a possível imposição da Casa Branca para a devolução das empresas nacionalizadas depois da Revolução de Abril aos grupos económicos da época do fascismo. Com resultados fatais: “
No meio disto tudo, quem eram os Espírito Santo? Ninguém, tal como o romeiro da célebre peça de Almeida Garrett. Uns desenraizados, vivendo (estes sim) acima das suas possibilidades, apenas porque nos anos 1980 a CIA e um ex-embaixador americano entenderam que o governo português devia trazer uns cacos das antigas elites financeiras da paróquia para legitimar a reprivatização da banca. Sem controlo de qualidade. Claro que ia dar asneira. Uma má educação sai sempre cara.” (Público, 12/9/2014)
4. A ministra das finanças causou mal-estar no Banco de Portugal ao empossar o novo responsável pelo departamento de supervisão, abrindo assim espaço para que possa acusar a equipa anterior de carlos costa de ser incompetente. E por isso ter causado danos irreparáveis na gestão do caso BES.
Mas, num assunto, onde ainda sobram muitas cartas para sair da cartola, passos coelho deu mais uma canelada em cavaco ao afirmar que, se sobre esse assunto, o Presidente não soube tudo, foi porque não perguntou, já que dispôs de “plena ocasião para colocar as questões que entendia pertinentes”.
Adivinham-se palpitantes as cenas dos próximos capítulos!
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