Embora não tenha grandes ilusões quanto ao seu sucesso, não posso deixar de sentir uma empatia afetiva com quantos procuram melhorar o mundo com movimentos contestatários assentes no conceito da desobediência civil.
Nos anos mais recentes temos conhecido diversos equívocos sobre algumas desses tentativas de revolução não violenta, os mais evidentes com as Primaveras Árabes que, ora deram origem a ditaduras ainda mais ferozes do que as anteriormente existentes (o caso do Egito), ora permitiram o crescimento inquietante do jiadismo na Líbia, na Síria ou no Iraque.
Mesmo nos casos em que se chegaram a alimentar algumas expectativas mais otimistas - com os Occupy Wall Street ou com os Indignados da Plaza Mayor em Madrid - o fôlego inicial deu origem a uma ressaca mais ou menos brutal.
Até mesmo em Portugal tivemos algo de semelhante com a expressiva multidão, que invadiu as ruas de Lisboa em 15 de setembro de 2012, logo reduzida a um número bem menor de manifestantes na triste réplica de 2 de março de 2013.
Vem isto a propósito do documentário «Everyday Rebellion» de Arash e Arman Riahi, que acaba de estrear nas salas alemãs. Nele os realizadores abordam os diversos movimentos contestatários dos últimos anos e tentam perceber-lhes as táticas criativas destinadas a tomar a via mais expedita até à Utopia de um mundo melhor, menos desigual e mais fraterno.
A conclusão passível de retirar de tal filme - embora não seja essa a intenção dos realizadores - é a de que de bem intencionados inconsequentes está o mundo cheio. Restando assim duas alternativas: a da esquerda mais radical que olha para a Revolução como algo muito distinto de um convite para jantar, acedendo-lhe por via de uma mais do que improvável insurreição bolchevista, ou procurar antecipa-la através do esforço transformador da ação militante na via socialista para avançar passo a passo, e evitar assim os retrocessos inerentes a arriscarem-se objetivos intangíveis no imediato.
Os portugueses têm sentido na pele as provas dolorosas da incompatibilidade entre essas duas formas de se pretenderem alcançar a sociedade sem classes: ao derrubarem o governo de José Sócrates com o alibi dos custos inerentes ao PEC IV, essa esquerda radical foi cúmplice do tremendo retrocesso social destes três anos.
Terá sido essa perspetiva intransigente perante princípios de que não pretenderiam abdicar, que garantiu todas as malfeitorias empreendidas pela Direita para reverter tudo quanto ainda sobrara da Revolução de Abril.
Em consciência poderão os comunistas ou os bloquistas considerar que terá sido melhor derrubarem Sócrates do que impossibilitarem a estratégia de quem fez de passos coelho sua marioneta para reduzir custos sociais, privatizar tudo quanto ainda poderia representar lucros quem veio às compras de empresas rentáveis e retirar direitos a quem trabalha?
Esperemos que, com o novo ciclo de mudança aberto em 28 de setembro e a expectante vitória de António Costa, essa mesma esquerda revele a inteligência de mostrar ter, entretanto, aprendido alguma coisa! Porque as mudanças a implementar também carecem do contributo dessas forças políticas e sociais!
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