sábado, 14 de julho de 2018

SNS: indicadores não enganam, mas dispensava-se-lhe um vírus!


No debate de ontem sobre o Estado da Nação Jerónimo de Sousa e João Oliveira referiram por duas vezes a conspiração, que as direitas, e os interesses privados que as manipulam, estão a lançar contra o Serviço Nacional de Saúde, contando para tal com as Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros e alguns Sindicatos - nomeadamente o SIM -, que estão totalmente controlados por gente dessa área ideológica. Daí as notícias quotidianas sobre disfuncionalidades nos hospitais públicos, destinadas a desmotivar os utentes de os procurarem, indo assim engrossar os lucros significativos dos que pertencem a grandes grupos económicos privados.
E, no entanto, os números não enganam: depois de quatro anos de desinvestimento intencional do governo de Passos Coelho no setor - sem que então os médicos, os enfermeiros e outros contestatários de agora tivessem levantado o pio! - todos os indicadores estão em alta: concretizaram-se mais 302 mil consultas e 19 mil cirurgias; 700 mil utentes passaram a ter médico de família reduzindo-se de 15% para 7% os que ainda o não têm; abriram-se novas 55 Unidades de Saúde Familiar; oito mil novos profissionais foram contratados; e 1,4 mil milhões de euros foram acrescentados no orçamento para reforço dos hospitais-empresa.
Quer isto dizer que está tudo bem na saúde? Claro que não, porque cumpre-se aqui a regra de ser bastante mais rápido destruir algo que existe do que reconstrui-lo depois de anos sucessivos a cumprir o programa das direitas de reduzir o Estado tanto quanto possível, deixando as suas funções entregues a quem as pudesse transformar em negócio. Ademais a população vai envelhecendo, os doentes vão exigindo legitimamente o acesso a medicamentos mais caros, capazes de curar o que ontem era dado como letal, e  as pressões são muitas - nomeadamente da Comissão Europeia! - para que se reduzam os custos com a Saúde, mesmo que isso signifique o aumento dos encargos das famílias.
Continua, igualmente, a ser incompreensível - e o Bloco trouxe o assunto à baila no mesmo debate - porque se entregou a uma lobista desses mesmos interesses privados a definição da nova Lei de Bases, atirando para o caixote do lixo o excelente trabalho feito por João Semedo e António Arnaut. Como pôde o PS desautorizar assim uma das suas mais admiradas personalidades, para sempre lembrado por ter sido um dos principais criadores do SNS?
Para quem - como acontece comigo! - jamais perdoará a Maria de Belém o seu lamentável papel em facilitar o acesso de Marcelo ao Palácio de Belém - essa sinecura indigna justifica sérias apreensões sobre o quanto o seu trabalho permitirá recuperar o SNS ou contribuirá para o secundarizar em proveito dos interesses, que ela tem representado ao longo destas últimas décadas.
Como socialista defendo o trabalho feito até aqui pelo Governo, mas peço que seja melhorado e sobretudo purgado de quem nele aparece como vírus, mais do que como eficaz antibiótico!

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