Numa das crónicas da semana transata Daniel Oliveira constatava o óbvio: a União Europeia está muito mais próxima do fascista Orban do que de Tsipras a quem vergou de uma forma repulsiva: “o primeiro é integrável sem ceder um milímetro, o segundo só o foi quando se vergou.” Tanto basta para que a tendência eurocética se acentue em mim por muito que continue a reconhecer as vantagens, que uma reação eficiente à escala continental garantiria contra o protecionismo da Administração Trump e para melhor competir com a pujante dinâmica exportadora da China.
Racionalmente a integração europeia faria todo o sentido se ditada por uma lógica progressista, que assentasse num crescimento económico global, respeitador dos limites impostos pelos constrangimentos ambientais - o que significaria a preparação para um efetivo decrescimento, porque comandado por uma contenção efetiva do supérfluo e do que acaba nos aterros sem chegar a ser consumido! - e conseguindo uma redução efetiva das desigualdades entre as classes sociais e as várias nacionalidades que a compõem. É nesse sentido que é surpreendente o patriotismo serôdio de uma certa esquerda, que chegou a invocar em tempos o internacionalismo como valor maior da sua doutrina, mas agora parece viver bem com a possibilidade de conseguir satisfação corporativa para algumas profissões, que arregimenta em seu ilusório proveito eleitoral, mesmo que à custa do prejuízo de todos quantos parecem não caber nas suas preocupações. Mormente nos refugiados e emigrantes económicos de outras regiões do mundo, que deseja ver contidos do outro lado do Mediterrâneo ou para lá das fronteiras turcas.
O euroceticismo que a emoção tende a empolar em mim só decorre da lógica capitalista, que prevalece nos diretórios de Bruxelas comandados por um eixo franco-alemão, que já conheceu melhores dias. Sobretudo, porque ameaçado pelos monstros deixados à solta, quando prometeram deixar incólume a estratégia de exploração assente num sistema, que nem sequer aproveita às suas esforçadas marionetas, porque os plutocratas tendem a esquecer quem os ajudou a enriquecer cada vez mais lautamente empobrecendo todos os demais. Não espanta, pois, que Alain Minc, um dos mais entusiastas apoiantes de Macron, tenha agora lançado sinais de alarme, quanto aos riscos de uma Revolução imprevisível perante a evidência da aceleração na desigual distribuição de rendimentos entre quem trabalha e quem vive do esbulho das mais-valias resultantes das mercadorias e serviços por aqueles produzidas.
No meio disto tudo o salvamento dos miúdos tailandeses e até o divórcio entre os defensores do Brexit dentro do governo de Theresa May, constituem distração para quem deveria estar a conjeturar a possibilidade de fortalecer alternativa mais sólida para a distopia para que nos empurram. Uma alternativa assente nos valores e princípios, que se tornaram indiscerníveis no nevoeiro criado pelas falsas ilusões alimentadas décadas a fio por um sistema económico moribundo, mas ainda capaz de ser letal para com as vítimas, que lhe sofrem os efeitos dos seus desvarios.
Um outro mundo é possível mais justo, livre e igualitário de acordo com um modelo ideológico, que já falhou demasiadas vezes na aplicação, mas tem o potencial de, no futuro, se aproximar, com um saber de experiência feito, dos tais amanhãs cantantes, que nunca chegou a alcançar...
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