sexta-feira, 20 de julho de 2018

Gente em bicos dos pés e outros que se esforçam por sobreviver


1. Continua intensa a campanha em torno do nome sobre quem comandará a Procuradoria Geral da República, quando a atual titular concluir em breve o seu mandato. Maria José Morgado, que é uma das candidatas, tem-se esforçado por se pôr em bicos dos pés para que não a esqueçam e sabe contar com a simpatia dos setores apostados em ter como plano A, a manutenção de Joana Marques Vidal no cargo. Mesmo que seja tida como uma segunda escolha a Mizé do MRPP de 1975 não parece incomodar-se com tal condição.
A entrevista que, no âmbito da sua pré-campanha, deu ao «Público» é esclarecedora quanto à sua personalidade instável, mesmo que supostamente motivada pela disciplina conservadora. Fosse ela quem, desgraçadamente, viesse a assumir o cargo e o mais certo seria continuarmos com o carácter invariavelmente zarolho das investigações judiciais lançadas sob a sua alçada.
2. Igualmente em bicos dos pés já está o CDS, que começou a ameaçar a segurança rodoviária com a afixação de grandes cartazes com a carantonha de Nuno Melo a apelar à votação para as europeias.
Não sei o que se passará com os demais condutores, mas confrontando-me com tão odiosa publicidade, terei dificuldades em manter a atenção à estrada, tão irresistível me surge o vómito perante tal espécime.
3. Gosto muito de animais domésticos, guardando sentida saudade do Cléo, o gato que nos morreu o ano passado com a vetusta idade de 18 anos, e continuamos a usufruir os caprichos do Laad, também ele a avançar aceleradamente para a terceira idade.
A empatia com os nossos parceiros quotidianos tem-nos feito apreciar as muitas provas da inteligência e dos afetos animais. Daí que não seja preciso aderir ao PAN para congratularmo-nos com a proibição de abate de animais em canis municipais, alvo de uma chacina anual da ordem dos doze mil.
Que se capture e esterilize os que andam à solta, nada contra. Que sejam chacinados, como tem acontecido até aqui, é prática que tem mesmo de acabar...
4. No mesmo dia surgiram notícias contraditórias sobre os polícias, que se portaram vergonhosamente quando se viram chamados para conter a agressão racista de um segurança sobre uma jovem colombiana numa paragem de autocarro da cidade do Porto.
De manhã congratulávamo-nos por os saber a contas com processos disciplinares levantados pelos seus responsáveis. Perspetivava-se a justa expulsão de quem mostrara conivência racista com o agressor, não merecendo pertencer às forças de ordem quem não se mostrar à altura dos valores republicanos, que devem ser os seus. À tarde a PSP desmentia a notícia da manhã, justificando a apreensão sobre se não estará a vigorar a lógica corporativa do costume.
5. No mesmo dia em que fez aprovar no parlamento de Telavive uma legislação, que aproxima Israel de algumas das mais detestáveis práticas segregacionistas do apartheid sul-africano, Netanyahu recebeu um seu dedicado amigo: o húngaro Viktor Orban.
Que importa se o ditador húngaro tem um longo historial de afirmações antissemitas? Para o ainda primeiro-ministro israelita a sua sobrevivência política sobrepõe-se aos princípios, tanto mais que adivinha a forte possibilidade de, tão-só afastado do poder, ir parar à prisão pelas falcatruas sucessivas, que lhe têm vindo a ser atribuídas.

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