Não sou um incondicional de Mário Centeno que, a acreditar nos seus trabalhos académicos anteriores à condição ministerial, perfilha valores ideológicos que dificilmente se conjugarão com os previsíveis trilhos por onde as esquerdas deverão seguir futuramente se quiserem contrariar ao mesmo tempo as direitas e os populismos de extrema-direita. Mas tenho de reconhecer-lhe uma inegável competência técnica aliada à prudência com que conseguiu contornar sucessivamente as minas postas no seu percurso por Schäuble e seus subservientes cúmplices no Eurogrupo, pela Comissão Europeia com alguns dos seus comissários em guerra aberta contra a solução governativa portuguesa e, que nunca o esqueçamos, por Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou a soprar, para os altifalantes com que conta nos jornais e televisões, a vontade de o despedir.
É preciso ter nervos de aço, convicção profunda quanto à bondade da estratégia a implementar e o suporte incondicional do primeiro-ministro para Mário Centeno contar com sucessivos êxitos nestes dois anos e tal de governo. Bem podem as direitas arengar quanto à situação internacional (algo de que sempre se esqueceram quando trataram de derrubar e denegrir o governo de José Sócrates!), que com ele se cumpre a regra de se ser merecedor para que a sorte influa em seu favor.
A entrevista de hoje ao «Público» exasperou os professores, mas eles fazem figura dos tais cães que ladram enquanto a caravana passa. Porque constatando como as sondagens dão conta de um país que valoriza a sustentabilidade das contas públicas, ele assume a continuidade de decisões que não ponham em causa tudo quanto até agora se conquistou. Até porque a reivindicada recuperação do tempo de serviço dos professores nem sequer fazia parte do programa do Governo, nem do quadro orçamental definido para a legislatura. Na realidade se o Orçamento para 2019 já acomoda 107 milhões de euros a mais para fazer face às progressões dessa classe profissional, torna-se obscena a teimosia em exigir mais, quando sai claramente beneficiada relativamente a outras camadas sociais, que estão longe de conhecer tão significativa evolução nos seus vencimentos.
Será que Mário Nogueira, o oportunista do Stop ou qualquer outro sindicalista, que mantêm a luta contra o Ministério da Educação, confiam que um novo governo, previsivelmente de direita, lhes daria guarida ás desmedidas ambições? Será que creem na possibilidade de se manter este discurso político do governo, que acabou com a estigmatização dos funcionários públicos? Será que a lógica do sempre menos Estado iria ao encontro dos interesses dos seus associados?
O que sobressai nas palavras de Mário Centeno é a sensatez com que aborda o futuro do país, colocando a melhoria da qualidade de vida da grande maioria dos portugueses como seu objetivo e transmitindo a confiança em como, sob a sua condução nas Finanças, ele será alcançado.
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