quarta-feira, 25 de julho de 2018

Há quem queira confundir Manuel Germano com género humano!


Decididamente Sá Carneiro não chega sequer aos calcanhares de Mário Soares. Deixei implícito esse juízo comparativo em texto anterior, mas agora obrigo-me a enfatizá-lo, porque Marcelo Rebelo de Sousa veio secundar a ideia de uns estarolas laranjas, que fazem depender o reconhecimento de tal honra ao ex-Presidente da República apenas se a mesma for estendida ao seu antigo colega de partido.
A História foi relativamente benévola para com o político que se despenhou esturricado em Camarate, porque poupou-lhe o desmascaramento de que seria objeto acaso não visse abreviado os seus dias.
Quem viveu os últimos dias da campanha eleitoral para as presidenciais de 1980 nunca mais esquece o clima de quase insuportável opressão imposto pelo governo da AD, que pressupunha a imposição de um tipo de regime do género do atualmente verificado na Hungria de Viktor Orban, baseado numa maioria absoluta apostada em negar qualquer capacidade de intervenção a quem não se lhe sujeitasse.
Mesmo anteriormente Sá Carneiro mostrara essa tendência autocrática dentro do próprio PSD, fazendo birras e autoexilando-se em Inglaterra ou em Espanha, enquanto as direções a ele desafetas não se vissem corridas pelos prosélitos, que por cá deixava a sabotá-las.
Não! Sá Carneiro não se pode de modo algum igualar a Mário Soares, porque nunca foi um democrata, por muito que tivesse querido aparentá-lo ao pressentir a derrocada iminente do marcelismo. O país nada tem a agradecer-lhe por quanto possa ter feito em benefício dos seus cidadãos. Lembremo-nos, por exemplo, do Serviço Nacional de Saúde, que foi aprovado em 1979 com os votos contra, não só do CDS, mas também do PSD de Sá Carneiro e  de... Marcelo Rebelo de Sousa.
Querer equiparar o medíocre político de direita ao fundador do Partido Socialista e corresponsável por muito do que de bom foi conseguido desde 1974 é um insulto para a Democracia, que esta não merece. Porque se daqui a um século a História continuará a sublinhar a importância de Mário Soares em tudo quanto sucedeu na segunda metade do século XX português, quem se lembrará então de um frustrado golpista, que levou os seis anos subsequentes à Revolução de Abril a congeminar as formas mais tenebrosas de a destruir?

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