sábado, 21 de abril de 2018

Continuo inquieto com quem deveria estar bem mais entusiasmado


(1) Francisca Van Dunem veio dizer o óbvio, mas deu assim o merecido respaldo do Governo ao veredito de abjeta ilegalidade por parte da SIC ao difundir as peças do processo levantado contra José Sócrates. O aviso a Joana Marques Vidal é mais do que óbvio e justifica a reiteração do entendimento emitido meses atrás sobre a não recondução da procuradora num cargo onde as violações sistemáticas aos critérios básicos da Justiça pelos seus subordinados têm-se repetido sem qualquer sinal de impedimento por quem o deveria assumir.
Agora que a Ordem os Advogados já veio emitir tão veemente condenação e o Governo deixou os seus avisos, só falta ouvirmos o professor Marcelo dizer alguma coisinha sobre o assunto. Será que terá coragem para tanto ou refugiar-se-á no seu cobarde silêncio, como sempre sucede quando está em causa algum poder que o intimide?
(2) Entre Constantino Sakellarides e Adalberto Fernandes, a minha simpatia política pende claramente para o primeiro, cujo currículo é irrepreensível e sempre revelou um entusiasmo pelo Serviço Nacional de Saúde, que o atual ministro nunca conseguiu demonstrar. Nomeadamente desde a confusão com o Infarmed, passando pela designação de Maria de Belém - cujas ligações aos interesses privados no setor são mais do que conhecidos! - e culminando já esta semana com a emissão de uma opinião sobre a eutanásia, que no mínimo deveria guardar para si mesmo, Adalberto Fernandes vem-se revelando, mês após mês, um autêntico erro de casting, num governo onde já não consegue disfarçar o quanto dele destoa. A agora revelada demissão do coordenador do projeto SNS Saúde + Proximidade  só pode inquietar quem pretende ver este executivo mostrar-se bem mais assertivo para com uma das maiores conquistas da Revolução de Abril e que alguns intentam sabotar para que os investimentos dos grupos privados no setor tenham imerecido retorno.
(3) Alguns posts dos últimos dias em que sucessivamente critiquei Mário Centeno (a propósito da sua obsessão com o défice), Augusto Santos Silva (por ter mostrado compreensão com o ignóbil ataque à Síria) ou a Jorge Coelho (por ter voltado à Mota-Engil) mereceram alguns reparos de camaradas socialistas. A exemplo do que decerto alguns dirão sobre o desapreço pelo ministro da Saúde, expresso no ponto anterior. Mas se exemplo há do tipo de exigência, que deveremos mostrar para com os «nossos» ministros, eis o caso elucidativo de Manuel Valls, que depois de quase ter destruído o Partido Socialista francês com o seu péssimo desempenho como primeiro-ministro, invoca a dupla nacionalidade, para concorrer à Câmara Municipal de Barcelona pelo partido de direita Ciudadanos, prosseguindo aí a sua carreira de inimigo fidalgal daqueles que disfarçara serem seus camaradas. Quantos socialistas franceses andarão agora a lamentar não terem sido tão exigentes com Valls quanto deveriam ter sido, dele se dissociando atempadamente para que o desiderato não viesse as ser aquele que foi?
Como diria Churchill atentemos principalmente nos que temos às nossas costas, porque dos que se situam na trincheira contrária já sabemos com que podemos contar.

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