Porque é este o ano em que mais se politizam os incêndios? Eis a questão colocada por Daniel Oliveira no «Expresso» desta tarde e que resume em si o vazio de notícias mais palpitantes, capazes de alimentarem a atenção das amolecidas moleirinhas dos leitores e dos espectadores, pouco atentos a tudo o que não sejam os banhos de mar e os sabores gastronómicos digeridos com outra satisfação na disponibilidade do dolce farniente estival.
Nestas alturas nada melhor do que uma mãe lacrimosa a insinuar culpas governativas depois de se encostar ao ombro calculista do selfie man para atrair a atenção dos distraídos veraneantes. Descontamos-lhe a cena sabendo-a enlutada com a morte do filho, mas faz alguma impressão o percebermos como a voz se livra do embargo quando se trata de reclamar indemnizações. Choram-se as perdas de vidas, mas não se brinque com o dinheirinho, que ambicionam receber como compensação para as suas dores!
Posso ser injusto, mas a cena soou a falso melodrama num palco escolhido com intenções, que vão muito para além dos seus anunciados propósitos. Marcelo, como de costume, continua igual a si mesmo: cheira-lhe a votos potenciais para a renovação do mandato e ali está ele na primeira fila a arrebanhá-los!
Não se entende, igualmente, a pressa de todos os partidos à esquerda ou à direita do governo para legislarem à pressa, com a Assembleia da República em férias, sobre as indemnizações às vítimas. O PSD prosseguiu na sua lógica populista e, desta feita, o PCP e o Bloco decidiram dar-lhe cobertura. E, no entanto, eu que, como contribuinte, terei de dar para esse peditório, pergunto: se o incêndio houver resultado de causas naturais terei de ser penalizado por ele ter acontecido? Se teve mão criminosa não cabe a quem o perpetrou, ou a quem o encomendou, esse ressarcimento?
Por outro lado se só 2% da área florestal pertence ao Estado, correspondendo os demais 98% à gestão privada, terei de ser eu a pagar a incúria, a negligência, o simples abandono dos seus donos, que possibilitaram a dimensão trágica do evento?
É lamentável que os partidos parlamentares tenham tido mais uma cumplicidade … para lamentar. Porque, nesta altura, há pessoas a afogarem-se nas praias - até agora quase tantas quantas as que morreram em Pedrógão Grande. Quer isto dizer que os partidos, que decidiram lançar esta iniciativa legislativa à pressa, com objetivos exclusivamente eleitorais, também vão promover que paguemos pelas suas mortes?
E que dizer dos que morrem quase diariamente nas estradas por causa dos acidentes de viação e que são anualmente muitas centenas? Também irá caber ao Estado ressarcir essas perdas de vidas?
O que se está a passar á conta da utilização do sucedido em Pedrógão demonstra o vale tudo dos partidos que, não tendo responsabilidades governativas, tudo fazem para as dificultar com sucessivos e inescrupulosos obstáculos.
Que venham os futebóis a ver se com tal F os telejornais passam a dedicar-se a outros assuntos que não este. Sinceramente todo o aproveitamento em seu torno já enoja!
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