Será incontornável a apetência das televisões por tudo quanto lhes cheire a tragédia por muito que se revelem perversas as consequências das suas reportagens sem fim? Só para pegar em exemplos recentes podemo-nos questionar quantos pirómanos sentiram crescer em si o desejo de verem incêndios a irromperem das suas mãos só porque, horas a fio, as televisões multiplicaram imagens de bombeiros a combaterem incêndios um pouco por todo o país? E quantos lobos solitários avançam para ações suicidas só por detetarem o medo coletivo com atentados como os de Barcelona?
Em entrevista recente o filho do antigo traficante colombiano Pablo Escobar insurgia-se contra a série «Narcos» por glorificar a vertente criminosa da biografia paterna, fazendo com que muitos espectadores lhe invejassem o poder e a qualidade de vida proporcionados por uma reiterada atividade criminosa. Para Juan Pablo Escobar as televisões e os cinemas têm culpas sérias no despertar de novas vocações para o crime ao embrulhar de glamourosas cores todos os negócios avessos a qualquer resquício de legalidade.
Os canais dedicados a notícias em cima dos acontecimentos andam a prestar um péssimo serviço público: não só assumem um enviesamento notório das interpretações de tudo quanto se passa no país como, sobretudo, procuram explorar o lado mais emocional dos acontecimentos, aquele por onde mais facilmente investem a demagogia e os lugares-comuns, que impedem a abordagem mais racional, a única capaz de se revelar frutífera quanto aos resultados futuros.
Seria muito útil que, por uma questão de higiene coletiva, os espectadores passassem a desertar desses canais de modo privando-os do suporte publicitário. Mas, infelizmente, os responsáveis editoriais pela abordagem dessas tragédias vão ao encontro do que de mais sórdido existe no imaginário coletivo. Em vez de potenciar o que os portugueses têm de bom dentro de si, exploram o lado mais mesquinho e coscuvilheiro. Daí que se justificaria uma intervenção ativa do regulador a exigir modelos de informação conformes com o código deontológico dos jornalistas.
Forçassem-se eles a cumpri-lo escrupulosamente e teríamos melhores motivos para nos sentirmos otimistas face ao futuro.
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