1. A entrevista de António Costa ao «Expresso» tem sido objeto de várias reações, sendo a mais estúpida a assumida por Hugo Soares em nome do PSD, quando rejeita liminarmente o ramo de oliveira estendido pelo primeiro-ministro para depois das autárquicas e classifica de socratistas - considerando o termo como pejorativo! - as expetativas de grandes obras públicas no quadro do programa europeu que se seguirá ao atualmente em curso.
É dificilmente compreensível a cegueira ideológica, que impede os responsáveis do maior partido de oposição em compreenderem a inconsequência das suas reações. Perante os eleitores eles facilmente serão conotados com aquela figura popularmente rejeitada do sujeito que nem faz nem deixa fazer. Com reflexos óbvios nos favores eleitorais!
Isso mesmo foi entendido por dois insuspeitos comentadores - Ricardo Costa e David Diniz - que reconheceram implicitamente quanto essa proposta do primeiro-ministro só beneficia o atual governo e a maioria parlamentar em que se fundamenta. Não admira que, compreendendo quanto as direitas se vão afundando à conta da sua automarginalização do que mais interessa aos portugueses, o Bloco e o PCP logo tenham vindo manifestar-se disponíveis para convergirem com o PS na tão necessária tarefa de continuar a melhorar e desenvolver o país para além desta legislatura.
Tranquilo, Costa reconhece que se sente muito confortável com os atuais parceiros partidários. E nós agradecemos!
2. A saída de Steve Bannon do grupo de conselheiros de Donald Trump e o seu regresso ao blogue, que lhe serviu de ferramenta propagandística aos seus valores de extrema-direita, representa o reconhecimento de uma maré, que esteve a encher e conseguiu avançar seriamente até dimensão impensável, mas se vê agora em refluxo.
A manifestação de Charlottesville poderá significar o ponto de viragem em que os trogloditas dos vários movimentos neofascistas regressarão às tocas e dificilmente se voltarão a manifestar com a pujança coletiva agora demonstrada. Pelo contrário poderão deles emergir os lobos solitários para perpetrar atentados terroristas como o praticado pelo assassino, que atropelou os contramanifestantes daquela cidade da Virgínia com o seu carro. A exemplo dos homicidas da Catalunha, da Finlândia ou da Rússia, quando casos assim se repetem só indiciam a quebra significativa da influência de quem os inspirou.
Para muitos jovens islamizados na Europa, as derrotas do Daesh na Síria e no Iraque soam a um dobre de finados pelo fim das suas ilusões a respeito de um Estado em que vissem replicadas as suas ideias distópicas. Por isso mesmo, quando Bannon promete raios e coriscos com o regresso ao lugar onde foi feliz, desconhece que ele nunca deixa repetir as pretéritas satisfações. Tal como sucedeu com outros movimentos fascistas ao longo da segunda metade do século XX na Europa e nos EUA, o seu declínio é irreparável. Porque bastou virem à ribalta através do mais ridículo dos inquilinos da Casa Branca para se verem marginalizados como grotescas emanações de um passado assustador, definitivamente enterrado!
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