“A Sociedade dos Sonhadores Involuntários” foi um dos melhores livros que tive o privilégio de conhecer no ano em curso. Nunca José Eduardo Agualusa foi tão explicito na crítica, que faz ao poder político do MPLA, tomando como contraponto a justeza da posição dos “revus”. E com a vantagem de estar tão bem escrito e povoado de personagens memoráveis.
Ao chegarmos à última página cria-se a sensação de faltar pouco para que o regime caia e dê lugar a um outro, efetivamente democrático e disposto a combater a pobreza e a corrupção.
Há quem se iluda com alguns sinais de mudança relacionados com a possibilidade de o MPLA não repetir a maioria absoluta nas eleições desta semana. Obrigado a governar com o contínuo escrutínio da oposição será crível que minguem os aspetos mais ditatoriais do regime. A dúvida será a de saber até que ponto essa maioritária contracorrente representará as aspirações das camadas mais jovens, que nem conheceram a época colonial portuguesa, nem a guerra civil com a UNITA, não se enquadrando nos valores e nas propostas dos dois maiores partidos que a representam, ambos liderados por antigos lugares-tenentes de Jonas Savimbi.
Daí que os sonhadores involuntários do romance de Agualusa ainda tenham muito que porfiar: não é por acaso, que os “revus” apelam à abstenção por não confiarem o voto a nenhum dos partidos na liça. Se a saída de Zedu já desinfeta razoavelmente o ambiente tóxico de uma sociedade, que nascera alimentada com tantas promessas e virou distopia, ainda não é para amanhã que as mudanças substantivas ocorrerão. A luta irá continuar...
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