Obviamente que não vi o discurso de Passos Coelho na Festa do Pontal, muito embora ele me interesse como barómetro do estado de alma das hostes laranjas. Por isso mesmo socorro-me do relato de Maria Lopes, jornalista do «Público» incumbida da reportagem, que viu uma “plateia pouco reativa na maior parte do tempo que Pedro Passos Coelho discursou”. E se teve mais do que ensejo para tal, porque o discurso prolongou-se por 51 entediantes minutos, sem que nele houvesse mais do que verbosidade inócua e repetitiva.
A jornalista reconhece que “não houve grandes palmas, nem irromperam assobios como noutros tempos, nem mesmo ovação. Nem o entusiasmo das fotografias e das palmadas nas costas entre os convivas.”
Sinal de mudança inquietante para o ainda maior partido da oposição foi a ausência de jovens: “havia, pelo contrário, muita gente aparentando idade de reforma, o que resultou numa plateia bem mais amorfa do que em festas anteriores.”
À esquerda podemos congratularmo-nos com esse desfavor dos antigos simpatizantes laranja relativamente ao seu líder. Tomáramos nós, que ele se eternizasse em tal cargo, porque há ainda tanto para recuperar dos desvarios privatizadores e desregulamentadores das direitas nos anos de cavaquismo, barrosismo e passismo. Ao contrário do que ontem se ouviu no Pontal, não é em retomar os trilhos de anos idos, que reside o problema. Passos até errou factualmente, quando invocou o desejo das esquerdas em regressar aos anos 80, como se essa não tivesse sido uma década de má memória ao padecerem-se os efeitos das políticas do filho do gasolineiro de Boliqueime.
Se queria diabolizar as nacionalizações, Passos deveria ser obrigado a responder perante o país no que se ganhou com privatizações como a da EDP, da Galp, da PT, dos Bancos, dos CTT, da ANA ou da Cimpor? O que se ganharia com a entrega da TAP e da generalidade das empresas de transportes a interesses estrangeiros?
Não se lhe poderiam aceitar como respostas as palavras balofas, que preenchem os seus discursos. Deveria, sim, demonstrar preto-no-branco com números irrepreensíveis, que o país ficou melhor com essa perda de anéis do que com a sua conservação. Porque é cada vez mais evidente para uma grande maioria de eleitores, que os interesses representados pelas direitas são muito exíguos em dimensão por muito que pareçam relevantes na comunicação social. Mas já nem essa consegue manipular suficientemente os incautos, para que eles se ponham a apreciar as cinzentas festividades laranjas.
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